Placas afixadas na parede de frente para a rua Artur Bernardes anunciam aluguel de pontos e salas para escritórios. As obras de restauração do antigo “casarão dos hoteis” - na esquina com a rua Manuel Anselmo perto da ponte da cadeia no centro histórico de São João del-Rei – foram concluídas há algumas semanas.
O edifício foi adquirido pelo empresário Vicente Roberto de Carvalho e, a partir de 2015, passou por reforma completa (externa e interna). Em fevereiro deste ano, foi retirado o tapume que protegia o imóvel durante o restauro. As obras internas continuaram por mais algum tempo.
O casarão dos hoteis foi construído em 1832 pelo capitão-mor João Pereira Pimentel, filho de Antônio Pereira Pimentel e de Anna Tavares e pai de Aureliano Pereira Correia Pimentel (nome de escola estadual), entre outros, de acordo com pesquisa realizada pelo professor Antônio Gaio Sobrinho.*
Com ala de três pavimentos na esquina, o casarão colonial, inicialmente, tinha um anexo ou ala de dois pavimentos voltado para o córrego do Lenheiro. Em 1926, este anexo foi substituído por nova edificação com três pavimentos, colada ao casarão da esquina, para aumentar sua capacidade hoteleira.
Primeiro hotel
Desde suas origens, o edifício se destinou a residência familiar, hotel e comércio. O primeiro empreendimento hoteleiro, Grande Hotel Central, foi inaugurado em 1886 sob direção de Manoel Anselmo de Oliveira. Três anos depois hospedou o famoso propagandista republicano Antônio da Silva Jardim, ocasião em que foi depredado e ameaçado de incêndio pelos monarquistas locais. “Em S.João del Rei, a massa, assulada pelos padres ultramonarquistas do lugar, além de apedrejá-lo, chegou a atear fogo à casa em que se encontrava”, escreveu Altivo Lemos (Revista IHGSJDR, v. X).
Em 1892, o edifício passou às mãos de Valentim Martinelli, com o nome de Grande Hotel Martinelli. Teve ainda outras administrações e nomes: Hotel Caputo, Pensão Macedo, Hotel do Hespanhol, Hotel Colonial, Hotel Batista Caetano, Grande Hotel Sinhá Baptista, Hotel Madrid, Hotel Bela Napoli e Hotel Universitário Roda Viva.
Em 1912, o prédio foi adquirido pela família de Maria Cristina Rodrigues, conhecida por Sinhá Baptista, devido ao casamento de Maria Cristina e Baptista José Rodrigues. Com o falecimento de Baptista José Rodrigues em 1921, foram Sinhá Baptista e seus herdeiros quem por mais tempo mantiveram a propriedade e a conservação do imóvel.
Em 1924, com o nome de Pensão Macedo, o prédio abrigou a expedição do modernismo de 1932. Hospedaram no prédio nomes famosos como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Blaise Cendrars, Tarsila do Amaral, Olivia Guedes Penteado, René Thiollier e Oswald de Andrade Filho.
O prédio foi tombado por lei federal em 1938 e por lei municipal, em 26 de março de 2007. Durante todo o século 20, o prédio permaneceu como propriedade dos herdeiros de Baptista José Rodrigues. Entre 1999 e 2006, foi administrado diretamente pela família sob a denominação de Grande Hotel Sinhá Baptista.
O último empreendimento foi o Hotel Universitário Roda Viva cuja administração, a partir de 2011, procurou conciliar duas atividades vocacionais de São João del-Rei: a vocação historicamente hospitaleira (hoteleira) e vocação educacional (universitária, a partir dos anos 1970) e cultural.
Arquitetura colonial
De acordo com descrição do laudo da Secretaria do Patrimônio, trata-se de composição arquitetônica tipicamente colonial. Na ala colonial, a estrutura é de madeira, paredes de pedra, adobe e pau-a-pique, pisos e forros de madeira tipo friso, esquadrias de madeira com arco abatido. Destacam-se o jogo das águas dos telhados, o beiral em forma seveira (acabamento de parede onde duas fiadas de telhas se apoiam) e os vãos ritmados com verga em arco abatido, sobressaindo as janelas rasgadas com balcão isolado guarnecido por gradil de ferro. Entre os elementos artísticos, gradil nas sacadas e bandeiras em ferro nas portas da ala comercial.
Já a ala nova, com intervenção eclética em 1926, mostra composição simétrica, despojada, com elementos ressaltados que acentuam o caráter vertical da modernatura, vãos com verga em nível e cornija perfilada sob platibanda retilínea ornada modestamente com paineis retangulares. Apresenta estrutura em concreto, paredes de tijolos, laje cobertura, esquadrias de madeira e ferro e verga reta.
*Na pesquisa, o professor Antônio Gaio Sobrinho, do Instituto Histórico e Geográfico, utilizou entre outras fontes a publicação “Antigo Hotel Sinhá Baptista, Restauração Arquitetônica, Levantamento/Diagnóstico, Vol. 1, Março de 2015.