Em tempos de acaloradas discussões políticas este editorial se inspirou num belo artigo escrito pelo teólogo Leonardo Boff intitulado “Fé e Política: Suas Implicações”. Assim Boff conceitua a política: “Política é a busca comum do bem comum. Por isso a política tem sempre a ver com a sociedade e com a vida cotidiana das pessoas, com os salários, com o preço do pão, com as passagens de ônibus, com as prestações da casa própria e com o sistema escolar. Nada do que é social está fora da política. É a política que organiza a forma como vivemos juntos, produzimos e distribuímos os bens e os serviços”.
A política é o prolongamento de uma das inúmeras dimensões da nossa vida, sobretudo quando esta é colocada em sintonia com o outro, com os grupos e classes, enfim com toda a sociedade. Em nenhum momento agimos sozinhos. Estamos sempre partilhando e compartilhando experiências, sonhos e projetos. Vivemos em sociedade e é por isso que somos, essencialmente, “animais políticos”, como bem definiu o filósofo Aristóteles na antiguidade grega. É com esse olhar de profunda consciência de que política é a “busca comum do bem comum” que devemos participar do processo eleitoral que no momento se arvora.
É chegado o momento em que candidatos e partidos travam hercúleas disputas em prol do seu voto, amigo leitor e eleitor. O fazem, na maioria das vezes, praticando o que Leonardo Boff chama de política com (p) minúsculo, isto é, aquela cujo objetivo maior é alcançar o poder, alavancar o partido, impor/expor idéias pessoais e partidárias. Não há dúvidas de que essa política faz parte do jogo. Porém é preciso que ela seja submissa à política com (P) maiúsculo, ou seja, aquela que está empenhada com o social e com a vida cotidiana das pessoas. A verdadeira política (P) é a tradução dos problemas básicos da vida social, como por exemplo, a aquisição de um Posto de Saúde para o bairro, Pavimentação de Ruas, Saneamento Urbano, Segurança Pública etc. Qual o candidato que oferece a melhor proposta frente a esses desafios e que melhor acolhe a política como prolongamento da vida do cidadão em sociedade? Saber quem é ele será um dos desafios que teremos até o dia 05 de outubro.
A nova legislação eleitoral minimizou o marketing e privilegiou o debate durante a campanha. O eleitor ainda não está acostumado a sair de casa para apenas assistir a um comício sem a participação de duplas sertanejas. Mas irá se acostumar e o tempo o mostrará que a ação do TSE está em favor de uma campanha limpa, racional e aberta. Com esse novo modelo, o eleitor poderá conhecer melhor o candidato e suas propostas. Poderá distinguir o que de fato é possível daquilo que é mirabolante e especialmente eleitoreiro.
Nos próximos meses, candidatos a prefeito e vereador estenderão suas mãos para um aperto fraterno, cujo fim verdadeiro é mesmo o compromisso com o seu voto. Além do sincero aperto de mãos, é preciso que enxerguemos nos olhos dos políticos o compromisso com a cidade, com os desafios que se descortinam e com o programa de governo elaborado pelo partido. Será que o candidato está mesmo disposto a cumprir o programa elaborado, ou está apenas utilizando-o como trampolim para o poder, fazendo assim política com (p) minúsculo?
Estejamos também atentos ao candidato que dizem manter o compromisso com a ética. Moral e ética são, sem dúvida, as palavras mais recorrentes no dicionário dos políticos e as que mais enfeitam os programas de governo. Será que nossos candidatos estão mesmo dispostos a pautar suas ações pela moral e estão convictos de que a ética é um exercício cotidiano? Teremos tempo, até outubro, para analisar cada item, cada proposta e, depois, escolher qual é o melhor. O nosso desafio será distinguir o político maiúsculo do político minúsculo. Será saber separar tudo aquilo que é mera proposta eleitoreira daquilo que de fato se constitui em propostas reais, maiúsculas e responsáveis.
Política (P) maiúscula X Política (p) minúscula
Editorial
12/08/20080