Tomou posse na Academia Brasileira de Letras o grande brasileiro EDUARDO GIANNETTI. Não resisti à tentação de transcrever os três minutos finais de seu discurso. Beleza literária aliada a uma declaração de confiança no Brasil, a despeito de momentos turvos que vamos vivendo. Eis suas palavras:
“É difundida a crença de que a idade nos torna conformistas, céticos e resignados diante da realidade como ela é. Na mocidade combatia, na maturidade passou a sorrir com descrença.
Se é o caso para a maioria, não sei dizer. Mas de uma coisa estou certo: seguramente, não é o meu caso. Ao contrário, sendo que os anos acirraram em mim a revolta com as injustiças da vida brasileira e, sobretudo, avivaram a esperança e a fé radical em nosso futuro.
O Brasil desceu aos infernos: a democracia afrontada, a obscena desigualdade agravada, a floresta violentada. Extraviamo-nos a tal ponto, creem alguns, que, talvez, tenhamos perdido, e de vez essa vez, o caminho. Quem poderá saber?
O amor, porém, é ilógico. É Colombo ao ousar o desconhecido; é
Aleijadinho, Machado, Pelé. A África em nós. Daí a minha crença inabalável, no anacronismo/promessa chamado Brasil. Mais cedo, talvez, do que imaginamos, vamos virar a página e reencontrar, revigorados, o caminho. Às vezes, é preciso descer aos infernos para que possa romper amanhã. O Brasil, quero crer, está grávido no limiar de um parto temporão de cidadania.
O Espírito, como o vento das grandes mudanças, sopra onde quer, quando quer e para onde quer. O que aí está, a apodrecer a vida, não pode durar porque não é nada. Quando muito é estrume para o futuro.
Vocês sabem do que eu estou falando.
O mal existe no mundo para despertar ação, não o desespero; estimular engajamento, não indiferença; suscitar compaixão, não cinismo. Tudo o que já foi é embrião do que vai vir. Esperança agreste a brotar do fel do desespero. Desencanto, reencanto. Desengano, reengano
O Brasil tem sede de futuro. A biodiversidade da nossa terra, a sociodiversidade de nossa gente, afro-euro-ameríndia são os principais trunfos brasileiros diante de uma civilização em crise. O futuro se redefine sem cessar. Ele responde à força e à ousadia do nosso querer.
Queiramos: onde cresce o perigo, cresce também o que salva.
Obrigado pela atenção!”
Essas não são palavras de desânimo. São palavras alentadas pela confiança no país que, “descido aos infernos”, encontrará caminhos e, sobretudo, pessoas capazes de ajudar a construirmos uma aurora luminosa para o amanhã.
(Nota) Acabo de assistir à entrevista que o Presidente Bolsonaro concedeu à Rede Globo. Fiquei envergonhado com o comportamento de jornalistas experientes, que pensei maduros. A conversa, que entrevista não foi, se deu com o Presidente, a quem se quer se dirigiram assim, e não com um candidato, de quem se poderia indagar sobre o plano de governo. Uma vergonha. Um tribunal a fazer inveja a tantos tribunais ditatoriais a que a história já assistiu.