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Agronegócio: produção agrícola e sustentabilidade

31 de Julho de 2024, por Instituto Rio Santo Antônio

Ítalo Vinícius Gomes Maciel*

Adriano Valério Resende**

 

É notório que o Brasil é um grande exportador agrícola e que o agronegócio convive com a expectativa de um constante aumento na produção e, consequentemente, na área plantada, o que gera uma pressão sobre terras com vegetação nativa. Nesse sentido, o desafio é equalizar questões econômicas, sociais e ambientais.

Historicamente, a agricultura comercial no Brasil teve sua origem por volta do século XVI, com a monocultura da cana-de-açúcar no Nordeste. No XVIII, foram introduzidas novas culturas, sendo o café a mais importante. Na segunda metade do XIX, o café já dominava a pauta das exportações brasileiras, mas também havia outros produtos, como algodão, borracha e cacau. O café permaneceu preponderante até a década de 1930. A partir de meados do XX, a produção agrícola passou por um processo de expansão, diversificação e modernização, a exemplo da Revolução Verde, iniciada nos anos 60/70, que aumentou a produção graças à utilização em larga escala de máquinas, adubos e defensivos químicos. Após os anos 90, o setor agrícola foi impulsionado pelas demandas crescentes do mercado externo e pelas políticas para aumentar as exportações, visando melhorar o saldo da balança comercial.

O agronegócio é um ramo que perpassa por diversas atividades, estando envolvido com os três setores da economia: primário (produção agrícola e pecuária); secundário (agroindústria e indústrias de maquinários, implementos e insumos agrícolas, como adubos, fertilizantes e agrotóxicos) e terciário (transporte, comércio e pesquisas). A cadeia produtiva da agropecuária exerce um importante papel na economia brasileira, contribuindo com 23,8% do PIB em 2023 (a projeção para 2024 é um pouco menor, 21,5%).

As exportações ligadas ao agronegócio bateram recorde em 2023, chegando a US$ 166,55 bilhões, o que representa quase metade do valor total das exportações brasileiras. Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o volume da produção brasileira de grãos deverá atingir 299,27 milhões de toneladas na safra 2023/2024. O montante representa um decréscimo de 6,4% ou 20,54 milhões de toneladas a menos em relação ao ciclo anterior. Mesmo assim, essa safra será a segunda maior já colhida no país. Os principais produtos mais exportados em 2023 foram: complexo soja (40%); carnes (14%); complexo sucroalcooleiro (11%); produtos florestais (9%); cereais, farinhas e preparações (9%) e café (6%). Um destaque recente foi que na safra de algodão 2023/2024 o Brasil ultrapassou os Estados Unidos, tornando-se o maior exportador mundial.

Vale destacar o apoio financeiro do governo federal dado ao setor através do Plano Safra. Os benefícios são ofertados por bancos públicos e privados com a finalidade de se investir na agropecuária e custeá-la. A distribuição é feita da seguinte maneira: para os pequenos produtores, há o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e, para o agronegócio, o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). O Plano Safra 2024/2025 vai ter valores da ordem de 400,59 bilhões de reais para o Pronamp e 76 bilhões para o Pronaf, o maior valor da série histórica.

Do outro lado da moeda, segundo o MapBiomas, nas últimas décadas todos os biomas brasileiros sofreram com o processo de degradação, com destaque para o Cerrado e a Amazônia. E, sem dúvida, a expansão da fronteira agrícola é o principal fator que contribui para a alteração do uso do solo no Brasil. Felizmente, estamos vendo a modernização do sistema produtivo, o que permite a produção de alimentos de qualidade e com mais eficiência, diminuindo, de certa forma, a pressão sobre o meio ambiente. No entanto, precisamos ainda avançar em várias questões, tais como: reformar as pastagens degradadas, manter as áreas de proteção legal preservadas dentro das propriedades rurais, reduzir o uso de agrotóxicos, aumentar o financiamento para o produtor familiar e, principalmente, precisamos entender que o aumento da produção deve ser fruto da melhora da tecnologia e não da anexação de áreas nativas. Mas isso demanda uma mudança de mentalidade do produtor rural e também da sociedade brasileira. Enfim, está posto o desafio.

 

*Aluno do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG.

**Professor CEFET/MG.

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