“Em certo ponto da Serra das Vertentes, ao norte de São João del-Rei/MG, há uma cidade que se ergue altaneira, qual sentinela dos Campos das Vertentes e que, de par com uma beleza invulgar do sítio em que se acha plantada, no ‘cimo da rocha’, ergue-se, imponente e dominante, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França. Esta cidade que tem uma história rica e de grande relevo, dentre todas as que constelam no universo das Minas Gerais, é o berço da Liberdade e se chama Resende Costa.” É dessa forma que Alair Côelho de Resende se manifesta inicialmente no seu Casos e causos do vovô Totonho da chapada ao se referir à sua terra natal.
E por que Resende Costa? Segundo o também resende-costense José Maria da Conceição Chaves (Juca Chaves), no Memórias do antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage, atual cidade de Resende Costa, desde os proêmios de sua existência, até os dias presentes, “em 1º de julho de 1911, dirigiram os habitantes da Lage uma representação àquela Assembleia (Congresso Mineiro), pedindo a elevação do Distrito à Vila sem foro, com a anexação do Arraial do Mosquito – o futuro distrito de São Francisco Xavier – cuja criação se cogitava, e que ao novo Município fosse dado o nome de ‘Resende Costa’ em imperecível homenagem ao seu dileto filho e ilustre brasileiro Conselheiro José de Resende Costa”. Segundo ainda Chaves, a ideia de dar o nome do Conselheiro ao município que seria instalado no ano seguinte “partiu do respeitável patriota e lageano major Joaquim Leonel de Resende Lara, descendente da família daquele conjurado mineiro”.
A citação acima – “conjurado mineiro” – é uma referência a José de Resende Costa (filho), pois ele, sim, recebeu o título de conselheiro, considerando já sua volta ao Brasil, que ocorreu em 1809, “por ordem provinda do Rio de Janeiro, onde já estava a Corte Portuguesa”. Anos antes, em 1802, quando se completaram 10 anos de cumprimento da sentença que o condenou ao degredo por sua participação na Inconfidência Mineira, Resende Costa (filho) estava livre, mas proibido de voltar ao Brasil ou “à América”, como consta do termo de condenação e ainda parte da pena. Dessa forma, no ano seguinte, conseguiu autorização para se mudar para Lisboa, onde, no final de 1805, conseguiu ser nomeado para o cargo de escriturário do Erário Régio (instituição fiscal portuguesa criada em 1761).
Seu retorno à pátria se deveu a um chamado do Príncipe Regente, com a ordem para que trouxesse consigo todos os documentos do Erário relacionados à exploração e ao comércio do diamante. Para tanto, foi investido no cargo de administrador da fábrica de lapidação então implantada no Rio de Janeiro. Gradualmente, foi passando pelas funções de primeiro escriturário, contador-geral e escrivão da mesa do tesouro até 1827, quando requereu sua aposentadoria e recebeu o título de Conselheiro do Império.
Distinguido com muitas outras honrarias, JRC (filho) esteve presente na política brasileira e mineira e, em 1823, já proclamada a Independência, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte do Brasil como representante de Minas. Em 1839, fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ainda no ano de sua criação, foi eleito seu sócio correspondente. No ano seguinte, sócio honorário.
A propósito da vida desse inconfidente lageano e do histórico 7 de setembro de 1822, Juca Chaves relata que “teve Resende Costa a ventura de assistir, em 1822, aos sublimes instantes da independência da Pátria, quando, enfim, adquiria o Brasil os foros de nacionalidade para entrar, definitivamente, no início da posição promissora que os tempos lhe reservavam no concerto mundial como muito bem pressagiaram os visionários de sua grandeza e protagonistas da memorável jornada de 1789”.
José de Resende Costa (filho) nasceu em 1765 no Arraial da Lage e faleceu em 1841 no Rio de Janeiro.
NOTA – As informações deste artigo até aqui sem crédito sobre JRC (filho) foram extraídas da obra Os inconfidentes José de Rezende Costa (pai e filho) e o Arraial da Lage, do resende-costense Rosalvo Pinto.