Vivi dias de intensa alegria. Alegria gorda tão grande que, em tudo, via poesia e arte. Em tudo compreendia, cada vez mais, que o corpo não é algo que eu tenho, mas algo que eu sou, tal a maravilha em que se transformava nos muitos, ricos, diversificados exercícios propostos pela variedade de esportes praticados. Que elasticidade! Que possibilidades! Que sobejas manifestações de controle por uma mente forte, vibrante, destemida! Ó maravilhosa natureza! Ó cérebro, sem limites, nos seus desafios!
Foram dias e noites que se entupiram emendados, a gente tendo perdido a certeza dos horários, tal a plenitude dos eventos. As noites eram de grande demora, quando com um olho só se ia dormir, e se acordava com o propor da aurora, para não perder nada dos espetáculos que pessoas muitas a muitas atividades se dedicavam, com toda a expectativa de sempre maiores vitórias sobre si mesmas. Quantas vezes a manhã, feita brancura, fui ver no madrugar. E para quantos as madrugadas eram de festa. Eu olhava o ilustre do céu que engrandecia a vida, mesmo quando o dia grandioso se deixava tomar por leves pingos d’água que pareciam se entristecer em meus olhos. Eu sentia, entretanto, que o dia seguinte seria outro dia com a mesma torre Eiffel, com o mesmo Louvre e belezas soltas pelo espaço.
As olimpíadas também retrataram a vida. Enquanto uns vertiam lágrimas, de choro ou não, de alegria ou não, outros vendiam lenços para que nada se perdesse, para que a vida não se esgotasse em momentos isolados, ainda que grandes. Contemplei, quase extasiado, a verdade de que o medo de perder não pode superar o desejo de ganhar.
Emocionei-me. A competidora de judô sentiu-se injustiçada pela arbitragem. Perdida a luta, contemplou a brasileira vencedora, no chão, em prantos. Correu até ela e, por longo tempo, aconchegou-a consoladora.
Emocionei-me. A ginasta brasileira derrotou o maior mito da história na categoria. Esta, com a medalha de prata, e a colega com aquela de bronze, lindamente reverenciaram a medalhista de ouro. E em efusão se orgulharam da cor de suas peles, idêntica nas três.
Emocionei-me. No ataque, a jogadora adversária no handebol chocou-se com a defensora brasileira que, tendo visto com que dificuldade sairia de campo, correu até ela, tomou-a nos braços e entregou-a aos cuidados de seus dirigentes.
Não consegui assistir à disputa da seleção feminina de vôlei. Queria tanto a vitória daquelas moças, qual prêmio pela opção do grande técnico e recompensa pela dedicação das atletas. Não assisti. Estou envelhecendo. Grandes emoções julgo melhor evitar.
Vibrei muito com a vitória da dupla brasileira no vôlei de areia. Contemplava Duda e via que ela era quase a paz. Para Ana Cristina olhei, o tanto, o tanto. De que força mental as meninas estiveram tomadas!
Perdoem-me as espanholas do futebol, mas rir antes da hora engasga.
Houve um que outro momento em que apertou em mim certa tristeza, mas na contemplação dos esportes, embelezados pela deslumbrante Paris, “me alegrei de estrelas” (GR).