Júlia Fernandes*
Adriano Valério Resende**
No norte e nordeste de Minas Gerais, temos uma vegetação bem característica que é denominada de Mata Seca, uma tipologia do bioma Mata Atlântica. Como acontece com praticamente todas a vegetações nativas do Brasil, a Mata Seca vem sofrendo severas intervenções antrópicas nas últimas décadas, o que merece maior atenção.
Primeiramente, convém falarmos sobre a Mata Atlântica. Esse bioma se estende por todo o litoral brasileiro, indo do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, ocupando uma área de aproximadamente 1,3 milhão de km², o que corresponde a 15% do território brasileiro. Conforme o Instituto Brasileiro de Florestas, 46% de Minas estão no domínio da Mata Atlântica, inclusive Resende Costa. Trata-se de um dos biomas mais biodiversos do mundo. No entanto, está extremamente ameaçado. Atualmente, segundo informações do SOS Mata Atlântica, resta apenas 12,4% da sua área original que possuem florestas maduras e bem preservadas.
O bioma Mata Atlântica, que inclusive tem uma lei de proteção (Lei Federal nº 11.428/2006), é composto por várias formações florestais e ecossistemas associados, dentre esses: Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista (Mata de Araucária), Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste. Essas tipologias de vegetação variam de acordo com as características geográficas locais, tais como: altitude, clima, solo, proximidade ao mar e precipitação.
Dentre essas tipologias, uma nos interessa, a Floresta Estacional Decidual, conhecida em Minas como Mata Seca, cuja característica mais pronunciante é a perda das folhas durante o período da estiagem. A Mata Seca ou Floresta Seca Tropical está presente também em outros países: Bolívia, México e Paraguai. Segundo dados do IEF (Instituto Estadual de Florestas), essa formação florestal cobre 3% do território brasileiro e, em Minas Gerais, se localiza nas regiões norte e nordeste.
Durante a estiagem, a paisagem da Mata Seca torna-se esbranquiçada, não sendo tão chamativa em relação aos biomas mais úmidos, não atraindo a atenção e a sensibilidade humana para os grandes impactos ambientais sofridos nesse tipo de vegetação. Entretanto, quando começam as chuvas, ela se transforma numa floresta exuberante. O tipo de árvore típico da floresta é chamado de caducifólia ou decídua. Essa espécie de árvore tem por característica eliminar as folhas para reduzir a transpiração e conservar a água, entrando em um “estado de dormência” até que os períodos de chuva retornem. Outra adaptação marcante da caducifólia são as raízes longas, capazes de acessar reservas de água em camadas mais profundas do solo. Destaca-se que a perda e a reconstituição anual das folhas refletem a grande disponibilidade de nutrientes no solo (geralmente alcalinos, ou seja, ricos em calcário), o que os torna bastante procurados para a prática da agropecuária.
Ações como a expansão da agropecuária, as queimadas, a extração de materiais, como madeira e calcário e outras atividades econômicas, têm levado ao desmatamento acelerado, reduzindo significativamente sua cobertura vegetal. Nesse sentido, pesquisadores afirmam que a Mata Seca é a formação vegetal mais ameaçadas do Brasil. Por outro lado, faltam estudos que detalhem a distribuição e a caracterização dos fatores abióticos determinantes da ocorrência da Mata Seca. Para a fundação Biodiversitas, a Mata Seca de Minas Gerais permanece pouco conhecida, ao passo que as pressões antrópicas através do carvoejamento, reflorestamento e expansão agropecuária pressionam imensas áreas de vegetação nativa.
Por fim, a reversão desse quadro requer uma ação conjunta de toda a sociedade. As universidades precisam priorizar a realização de atividades de pesquisa e extensão nas áreas de ocorrência de Mata Seca. Precisamos ainda do apoio do estado através de seus órgãos técnicos, como a Emater e o IEF, maior envolvimento da sociedade civil organizada, comitês de bacia hidrográfica, dos produtores rurais e das escolas, por meio de uma educação ambiental das novas gerações.
*Aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG
**Professor CEFET/MG