Voltar a todos os posts

Solos amazônicos e a Terra Preta de Índio

25 de Dezembro de 2024, por Instituto Rio Santo Antônio

Terra Preta de Índio e Solo da Região Amazônica (foto Revista Darwinianas)

Cauã Vitor de Sousa Vieira*

Adriano Valério Resende**

 

O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos define solo como uma coleção de corpos naturais que contém componentes sólidos, líquidos e gasosos, resultante de processos complexos acorridos ao longo de milhões de anos. Ele abriga organismos essenciais aos ecossistemas, podendo estar coberto ou não por vegetação e frequentemente tem suas camadas superficiais modificadas por ações humanas.

O solo é vital para a sobrevivência humana, pois, além de ser o substrato para a agropecuária, que é a principal fonte de nossa alimentação, fornece recursos minerais e energéticos usados na indústria e na construção civil. Além disso, atua como um reservatório de água, elemento essencial para a vida no planeta.

Quando se olha a exuberância da Floresta Amazônica, logo se pensa que o solo é extremamente fértil, mas a realidade não é bem essa. O solo amazônico é, em geral, bastante arenoso e de baixa fertilidade natural, isto é, tem pouca disponibilidade de nutrientes (cálcio, enxofre, fósforo, nitrogênio, magnésio, potássio etc.) para as plantas. O que mantém a sua estabilidade e fertilidade é a própria floresta, ou seja, forma-se uma camada orgânica que se origina da decomposição de troncos, folhas, frutos e restos de animais. Essa camada que fica sobre o solo, chamada de serapilheira, é rica em húmus, matéria orgânica decomposta essencial para as diversas espécies vegetais da região. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Florestas, apenas 14% dos solos amazônicos podem ser considerados férteis, em especial os aluviais (nas margens dos rios), portanto, propícios naturalmente para o desenvolvimento de alguma atividade agrícola.

Como o clima equatorial é muito quente e úmido, dá para se ter uma ideia dos requisitos para conservação desses solos. Em áreas que foram desmatadas, as intensas chuvas “lavam” o solo, removendo a camada superficial onde estão alocados os nutrientes. Assim, esse fenômeno, conhecido como lixiviação, torna-o ainda mais empobrecido. E os raios solares incidindo sobre o solo exposto, sem a cobertura vegetal, altera o ciclo de vida ou até mesmo mata os microrganismos que nele habitam. Assim, o desmatamento e as queimadas são problemas a serem combatidos, pois alteram a reciprocidade interna do bioma, uma vez que é a própria floresta que fornece os nutrientes importantes para a sua manutenção.

Um tipo de solo específico da região amazônica é o chamado Terra Preta de Índio (TPI). Essa é uma designação regional para os solos que possuem camadas superficiais escuras, de textura leve e arejada e com alto teor de carbono e nutrientes. De acordo com alguns cientistas, a formação desse horizonte escuro é resultante do manejo do solo feito pelos povos indígenas que viveram na floresta nos últimos 5 mil anos. Assim, os povos amazônicos, intencionalmente, manipulavam resíduos orgânicos e restos de material queimado que foram acumulados no solo como forma de aumentar a sua fertilidade e elevar a produtividade de alimentos ao longo dos anos. As TPIs são notoriamente férteis, em contraste com os solos vizinhos, apresentando altos níveis de fósforo, cálcio, zinco e manganês, além de estoques significativos de carbono orgânico, que podem ser até cem vezes superiores ao seu entorno. Por esse motivo, é muito requisitado para o plantio, especialmente pelas populações locais.

Uma característica marcante das TPIs é a presença de pedaços de artefatos cerâmicos de culturas pré-colombianas, o que reforça sua origem antrópica. Isso desmonta a versão de que elas teriam sido formadas a partir de depósitos de cinzas vulcânicas oriundas da Cordilheira dos Andes ou de matéria orgânica sedimentada em antigos lagos. Esses solos são encontrados em toda bacia amazônica, principalmente entre o Pará e o Amazonas, e até mesmo fora do Brasil. 

Por fim, a interação do solo com o meio ambiente revela sua importância para a vida no planeta. Nesse sentido, sua conservação, através de um manejo adequado, é fundamental para preservar sua função. O modo de vida dos povos indígenas é um forte relato da harmonia entre presença humana e conservação da natureza, e um exemplo disso é a existência da Terra Preta de Índio na Amazônia.

 

 

*Aluno do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG

**Professor CEFET/MG

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário