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Não é para esquecer; é para lembrar

05 de Agosto de 2024, por Vanuza Resende

Eu soltei involuntariamente a seguinte frase em um dia considerado ruim nas Olimpíadas: “poxa, que dia para ser esquecido, hem, Brasil?” E a frase veio sem tom de cobrança, mas sim de frustração de uma torcedora que não entende nada de esgrima e que jurava que a atleta estava super bem, mas foi eliminada.

E aí a ficha caiu. Quantos domingos os nossos atletas olímpicos já quiseram esquecer? Enquanto eu endossava a audiência do rádio e da TV acompanhando o futebol, eles fizeram um duplo twist carpado, o ippon correu solto no tatame e a manobra Xxx foi assim, sem nenhum defeito. Mas eu nem sequer sabia o nome deles, mas sabia várias opções do técnico de futebol que nem é o técnico do clube que eu torço…

Nesse mesmo domingo, outros atletas tiveram vontade de esquecer o dia porque não foram competir em algo que eles sabiam que iriam bem. E não foram porque o dinheiro não deu, porque a competição era em outro estado e mal dava para ir aos torneios de outra cidade! Não dava para ir no domingo, porque na segunda uma rotina normal os esperava e, mesmo sendo muito bons na modalidade, não tinha como viver de andar marchando ou do tênis de mesa.

Nesse mesmo domingo, a criança voltava para casa frustrada porque não conseguia se destacar em nenhuma posição do time, mesmo treinando há algum tempo. Mas ela gostava da bola. Nos intervalos dos treinos, ninguém ganhava dela quando arremessava a bola com tanta destreza na cesta que eram 3 pontos na certa. Ninguém fazia como ela. Por outro lado, ninguém dava muita bola para aquelas habilidades também, e todos os domingos de campeonato ela queria esquecer porque ela nunca conseguia ir bem no passe certo com a bola no pé.

E esse tanto de domingo, esse tanto de gente, esse tanto de cenário foi passando pela minha cabeça e eu pensei: “caramba, eu não deveria pedir para esquecer esse dia! Eu deveria pedir para que todos esses dias fossem lembrados.” Não, nem todo mundo que é bom vai ser ovacionado de 4 em 4 anos.

Quantas Rebecas e Raíssas nascem por aí? Elas beiram a perfeição; sinceramente, para mim elas são perfeitas. Se fosse para chutar, eu chutaria 1 em milhão. Mas aí que tá: a gente não pode só chutar, a gente tem de lutar, arremessar, velejar, correr, sacar, saltar… E aí, tenho certeza de que a gente tem muitooo mais que 1 em milhão.

A gente não tem que esquecer! A gente tem que lembrar do tanto de talento que aos domingos ganham, perdem, se classificam, lutam, encaram adversários mais novos, mais experientes e mostram o talento que não deveria ser tão complicado de conseguir mostrar!

Ouvi muita gente dizendo: nossa, as Olimpíadas podiam acontecer de ano em ano. Mas o torneio acontece de 4 em 4. Tempo para treinar e conseguir acertar mais do que errar! Mesmo tempo que os nossos políticos têm quando vencem uma eleição. 4 anos para acertar mais do que errar e que os acertos possam nos colocar no topo, não no topo do quadro de medalhas, o que seria muito bom! Mas no topo da oportunidade para que a gente tenha vontade de ser Rebeca, Rafaela, Osmar e Ricardo sempre! Os dois últimos são excelentes em alguma modalidade esportiva, eu não sei qual e nem você, porque eles tiveram vários domingos para esquecer. Diferente de hoje que temos um domingo para lembrar de votar certo, incentivar mais e apoiar como só a gente sabe fazer!

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