23 anos. Isso é juventude à flor da pele e de tudo o que a pele toca.
Quando alguém completa 23 anos, dizemos: você está na flor da idade! Eu diria hoje, da altura dos meus quase 50 anos: você está no botão da idade! Broto com vigor de vida, embrião de uma existência toda pela frente.
Meio século não é pouca coisa, minha gente! Se não posso dizer que sou secular, pois estou na metade da minha centúria à qual por certo não chegarei, posso dizer sim que sou secular, pois vivo neste mundo mesmo onde namoro tudo o que se me dá para a regalia dos meus olhos.
E o Jornal das Lajes, completando agora seus 23 anos, me dá regalias. Presentes que não se negam de jeito nenhum! Fôlego durando mais de duas décadas para meu deleite.
Desde o início do periódico, sigo atento as suas páginas. E depois de algum tempo do jornal circulando, passei eu mesmo a marcar presença em uma de suas colunas, chamada “Retalhos Literários”. Desde o início, este meu pequeno espaço com esta descrição: “Evaldo Balbino, com pequenas crônicas, vai tecendo as memórias e o presente como colchas de retalhos se tecem. São pequenos textos poéticos numa tessitura em prosa, numa urdidura que busca salvar, do tempo e no tempo, experiências vividas/inventadas”. Pois a vida em si mesma é invenção. E sei, bem sei, que a vida imita a arte e que a arte é invento verdadeiro. E sei que tudo é urdidura, sopro ardendo por se fazer cada vez mais e sempre.
Na metáfora dos retalhos, minha revisitação incessante à minha cidade. A Resende Costa do artesanato mostrando-se em variegada arte, principalmente a feita com tiras de malhas de diversos matizes para a confecção de tapetes, colchas, toalhas, cortinas... – redes que nos enredam o corpo, a alma, a memória.
Em algum momento publiquei poemas nessa coluna. Mas em geral, quase sempre, o que fiz e faço é fisgar e enlaçar palavras como um tecelão o faz com fios, e palavras para prosas poéticas, fragmentárias, retalhos verbais e vitais.
Escrever no jornal me foi e continua sendo exercício de escrita, de fazer uma colcha imensa com seus pedaços. Um textozinho aqui, outro ali, sem pretensão nenhuma, ou melhor, com muita pretensão. Pois meu desejo é fazer arte, artefato de memória, cacos para um vitral em que eu possa me encontrar, achar todos à minha volta, cartografar o meu entorno. Isto mesmo: escrevendo, vou construindo geografias de mim e dos outros. Vou infindavelmente – até onde for possível – construindo formas para o que não tem forma.
Não que o mundo não exista independente de mim. Mas para meus olhos ele só ganha forma se o ressignifico. Escrevendo o mundo, posso acariciar-lhe os contornos, sentir-lhe o cheiro, tocar-lhe o corpo todo e inteiro, com lisuras e asperezas.
E dentro do jornal de 23 anos venho caminhando. A minha caminhada nele com um pouco menos de tempo, mas tão velha que eu me sinto feliz por aprender tanto entre outras palavras, outras vozes, outras colunas. Em meio a notícias, reportagens, crônicas, fotos, propagandas, eu não me perco. No labirinto jornalístico, desenhado no papel ou numa tela digital qualquer, essas vozes e falas me ajudam a me situar nos ares de Resende Costa e do mundo. Leio com afinco as notícias e as mãos resende-costenses. E sei que estou lendo, assim, o mundo inteiro. As raízes são tantas e me falam do tronco da árvore, dos galhos, das folhas e dos frutos. Me falam até mesmo de outras muitas árvores pelo mundo afora.
Cada quintal é universal. Já disseram isso. Eis a mais pura verdade!
Nas folhas do meu Jornal da Lajes, vejo acenos e gestos. Escuto o sino da cidade, as vidas que vêm e se vão, as mortes sucessivas e os nascimentos eternos. Vejo os movimentos incessantes duma pequena cidade. Escuto ideias e ideais. Amo o que se pode amar porque nos faz bem: a vida social e ao mesmo tempo tão só. Na leitura solitária, a solidariedade da espécie humana e de outras espécies.
Parabéns ao meu jornal – porque o sinto também meu!
Parabéns, Jornal das Lajes!!!