Recentemente, visitei o Museu Aristides de Sousa Mendes, instalado na Casa do Passal - na freguesia de Cabanas de Viriato, município de Carregal do Sal (Portugal) - que pertenceu ao diplomata também conhecido por cônsul de Bordéus. Estive na companhia do casal português Maria do Rosário Cunha Oliveira (advogada) e Antônio Manuel da Graça Oliveira (engenheiro), que viveu quatro anos em Praia, Cabo Verde, e agora usufrui da reforma (aposentadoria) em Cabanas.
O museu representa a memória de Aristides que, durante a II Guerra Mundial, foi responsável pelo salvamento de milhares de fugitivos da discriminação e perseguição racial e política por parte da Alemanha nazista. O museu foi inaugurado depois da recuperação, pela Câmara Municipal de Carregal do Sal, da Casa do Passal que durante décadas esteve abandonada e em estado de ruína, na sequência da difícil situação econômica que o diplomata enfrentou nos últimos anos de vida.
A Casa do Passal está classificada como Monumento Nacional desde 2011. E o Museu foi um dos vencedores da 2.ª edição dos Prêmios Nacionais de Arquitetura “Espaço 2024”, anunciados durante cerimônia no Templo das Poesias, no município de Oeiras.
Parentesco*
O diplomata Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches e o advogado Aristides Semedo Cardoso Rezende Nunes de Aguiar, não apenas foram contemporâneos como também se criaram laços entre as duas famílias. Aristides de Aguiar, nascido na cidade de Praia, Ilha de Cabo Verde, era filho de Antônio Augusto Nunes de Aguiar e de Ludovina da Graça Resende, esta descendente do inconfidente mineiro José de Resende Costa (filho).
Aristides de Aguiar casou-se em 28 de outubro de 1931 com Maria do Patrocínio Telles Ribeiro de Abranches, filha de Adolfo Coelho Ribeiro de Abranches (nascido em Midões a 14/09/1863 e falecido em Cabanas a 19/10/1918), e de Camila Amélia de Loureiro Teles do Vale (nascida na Casa dos Arcos, em Outeiro de Baixo, freguesia de Cabanas, a 15/11/1871 e falecida a 05/07/1956).
Adolfo Abranches era irmão de Maria Angelina Coelho Ribeiro de Abranches, mãe de Aristides de Sousa Mendes. O pai do diplomata era o bacharel em Teologia e em Direito José de Sousa Mendes, que se tornaria Juiz de 1ª Instância no Tribunal das Relações e Desembargador da Relação de Coimbra.
Descendência
Aristides de Aguiar, nascido a 1º de novembro de 1907 na cidade de Praia, Cabo Verde, e Maria do Patrocínio Telles de Abranches, nascida na Casa dos Arcos em Cabanas a 11/08/1910, tiveram os seguintes filhos: Maria Helena Telles e Abranches d´Aguiar (professora); Carlos Adolfo Telles e Abranches d´Aguiar (professor); Antônio Adolfo Teles de Abranches de Aguiar; Maria João Telles Abranches de Aguiar; e Luís Henrique Teles e Abranches d´Aguiar (engenheiro técnico agrário).
Os netos do casal Aristides de Aguiar e Maria do Patrocínio Abranches estão espalhados por Portugal, vivendo na freguesia de Cabanas de Viriato e nas cidades de Lisboa e Porto.
O Museu Aristides de Sousa Mendes
No primeiro corredor do museu, filmes da época mostram a ascensão, em 1933, de Adolf Hitler ao poder, na Alemanha, e o início da perseguição sistemática aos judeus. Começou pelo boicote a negócios e profissões, evoluindo para a discriminação total e a violência física e aos campos de extermínio. À medida que a situação se tornava insustentável, fogem da Alemanha para países como Bélgica e França. Com a ocupação pelas tropas alemãs de quase toda a Europa, para além dos proscritos, milhares de pessoas fogem simplesmente da guerra.
No segundo corredor, recorrem-se a mapas, documentos e testemunhos reais para a fuga para Sul, com a chegada dos alemães a Paris. Milhares de refugiados chegam a Bordéus numa procura desesperada de vistos para a liberdade. Aristides de Sousa Mendes decide ignorar as ordens de Portugal e começa a passar vistos a toda a gente. Com o agravamento da situação, ordena o mesmo aos consulados dependentes dele. Apesar da tentativa do governo português de o parar, continuou a conceder vistos até mesmo na rua e junto á fronteira. Só desistiu com a chegada dos alemães.
No terceiro corredor, mostra-se a permanência dos refugiados nos vários pontos do país e o seu embarque rumo à liberdade. A entrada em Portugal deu-se principalmente pela fronteira de Vilar Formoso. Para Lisboa, só eram autorizados a seguir aqueles que já possuíssem bilhete de embarque e visto para outros países. Os outros eram encaminhados para estâncias balneares e termais ou para cidades de província, onde podiam fixar residência. De maneira geral, os refugiados foram bem recebidos pelas populações.
Mais de uma dúzias de peças do Museu foram cedidas por Fernando José Coelho Campos, ex-comandante dos Bombeiros Voluntários e atual presidente da Associação Humanitária Bombeiros Voluntários de Cabanas de Viriato. A família de Fernando Campos era amiga de Aristides Sousa Mendes que, junto com Aristides de Aguiar, pertenceu à Associação.
*Famílias de Arganil – Subsídios genealógicos, volume I, 2014, de José Caldeira