Junho é caracterizado pelas festas religioso-folclóricas: Santo Antônio, São João Batista, São Pedro. O Nordeste brasileiro que o diga. Também pela festa eucarística por excelência: “Corpus Christi”. Festa da procissão das “três abenção”, como o povo simples falava aqui, em Resende Costa.
Falando da Bênção do Santíssimo Sacramento, na liturgia antiga católica, necessariamente tem-se que falar sobre o “Tantum Ergo”, praticamente seu hino oficial.
E o “Tantum Ergo” remete obrigatoriamente ao autor da letra: Santo Tomás de Aquino (1227-1274). Escreve o padre Heitor Pedrosa (“Nos Esplendores da Poesia Litúrgica”): “Quando o papa Urbano IV pediu a Santo Tomás, teólogo da Cúria Romana, que compusesse o ofício para a festa de Corpus Christi era de temer que um doutor escolástico, o que [ele] mais é, aristotélico, estivesse pouco preparado para compor em latim clássico e ornado, hinos”.
Deu-se o contrário. Ele, não só é um dos maiores teólogos do catolicismo, mas, igualmente, o melhor poeta latino da Eucaristia que a Igreja já teve: “Pange Lingua”, “Ó Salutaris Hostia”, “Panis Angelicus” “Lauda Sion” etc.
Uma análise literária – intuito aliás desta série – revela um pendor poético de origem (Reinaldo, irmão de Tomás de Aquino, foi um dos melhores poetas da corte de Frederico II). Sua veia poética mostra um talento para expressar conceitos teológicos profundos do catolicismo e seus dogmas numa forma rigorosa da poesia clássica latina: rimas, métrica, ritmo, estrofação. Novamente, padre Pedrosa: “A poesia de Santo Tomás é uma poesia tônica que repousa na tríplice base do acento, da numeração das sílabas e da rima”. Alguém já comentou; “Doutor pelo pensamento e poeta pelo amor”
Na realidade, o “Tantum Ergo” constitui-se das duas últimas estrofes do hino eucarístico “Pange Lingua”. Ei-lo com a tradução muito livre e rimada do beneditino Dom Beda Keckelsen, autor do “Missal Quotidiano”, muito adotado pelo clero antigo.
Se traduzir poesia é muito difícil até para o próprio autor, segundo alguns teóricos, quase impossível, o poema aquiniano confirma em tudo a opinião.
Tantum ergo Sacramentum /veneremur cernui /Et antiquum documentum/ Novo cedat ritui; / Praestet fides supplementum / Sensuum defectui. (A tão grande Sacramento / Veneremos com respeito / Ceda o antigo documento / Ao rito novo e perfeito / Preste a fé o suplemento / Dos sentidos ao defeito)
Genitori, Genitoque / Laus et jubilatio, / Salus, honor, virtus quoque / Sit et benedictio; /Procedenti ab utroque / Compar sit Laudatio. Amen (Ao Pai, ao Filho amplamente / Louve, o mortal [nós mortais] e saúde [de saudar} / Junte ao louvor igualmente / Tributos de honra e virtude; / E de ambos ao Procedente {O Espírito Santo} / Louve em igual plenitude / Amém.
*Vidas idas que fazem falta
Alair Coêlho e Agenor Gomes Neto (Agenorzinho). Com a ida deles, a memória de Resende Costa fica empobrecida. Esta coluna os homenageia, pois devido à longeva participação deles da vida da cidade e a espetacular memória que tiveram, eram fontes permanentes de informação para o nosso JL. Alair deixou muita coisa escrita. Agenor, ultimamente, escrevia suas memórias no computador. A convite dele, eu as lia, o que estreitou mais ainda minha convivência com ele. Tomara que sejam impressas, pois são muito interessantes e muito bem escritas.