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Confessar-se ateu ainda é muito perigoso!

11 de Outubro de 2011, por João Magalhães

Não é intenção deste comentário debater ateísmo, crença em Deus, fé, agnosticismo etc. Nem problematizar a questão dos preconceitos que, por enquanto, parecem-me inerentes à condição humana. Até hoje, o passado não os viu desaparecer. O futuro verá?

Pretende, sim, questionar e debater discriminação - ações e/ou atitudes, comandadas exclusivamente por prevenções e preconceitos. Por que se discriminam a mulher, o homossexual, o diferente por raça, por classe social, por credo, o não-crente, o deficiente, senão pelo preconceito?  Contra segregações, separações, intolerâncias, há que se travar luta feroz e contínua.

Li na imprensa a seguinte notícia: “A suposta veiculação de mensagens ofensivas contra ateus motivou uma ação civil pública do Ministério Público Federal contra a emissora RedeTV! e a Igreja Internacional da Graça de Deus. Segundo a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo, durante o programa O Profeta da Nação, que foi ao ar em 10 de março último, o apresentador João Batista afirmou: “Chega para frente em nome de Deus. Só quem acredita em Deus pode chegar para frente. Quem não acredita em Deus pode ir para bem longe de mim, porque a pessoa que não acredita em Deus é perigosa. Ela mata, rouba e destrói. O ser humano que não acredita em Deus atrapalha qualquer um. Mas quem acredita em Deus está perto da felicidade”

Infelizmente, o conceito de que o não-religioso e sobretudo o ateu não merecem confiança, não são éticos, não têm moral, não têm espiritualidade, ainda está  arraigado numa grande porcentagem da população. Li uma enquete, por este tempo, na qual se mostra que seria mais fácil um candidato gay ganhar para presidente da república do que um candidato que se confessasse ateu. Portanto, comparando o preconceito contra o ateu com o preconceito contra o homossexual, o ateu é considerado mais pernicioso. Isso já aconteceu. Um candidato a prefeito de São Paulo perdeu a eleição, praticamente vitoriosa, porque no último debate revelou-se ateu.

Achar que moralidade, honestidade, ética, lealdade, caráter, humanismo, benemerência, são propriedades características, ou seja, apanágio, só dos crentes, dos religiosos, é um tremendo preconceito e uma ignorância maior ainda. Qualquer conhecedor simples das inquisições católicas e não católicas sabe disso. Não precisa ir tão longe. Só fanáticos e ultra-alienados ignoram ou perdoam os escândalos e falcatruas de toda laia, protagonizadas com tanta frequência por arautos de religiões e fé. Religião é uma das formas de espiritualidade. Certamente, a mais comum. Mas não é a única.  Pode-se ter uma espiritualidade, desgarrada de fé religiosa, oriunda de uma mística vinda da contemplação do mistério da existência, nascida de um deslumbramento frente ao universo, como argui e testemunha André Comte-Sponville, prestigiado filósofo e conferencista da Sorbonne, no seu belo livro O Espirito do Ateísmo (Martins Fontes, São Paulo, 2007).Pode-se constatar: práticas religiosas, fé em Deus, ritos, cerimônias, não são as únicas vias para a transcendência.

Para citar um exemplo, dentre os numerosos que conhecemos. Você tem coragem de desmerecer uma grande figura do humanismo brasileiro, Oscar Niemeyer (103 anos!) -  que por sinal publica agora um livro sobre seus 16 projetos de igrejas e mesquitas -, porque ele é ateu convicto?!
 
Loas ao Ministério Público.
Lástimasà emissora e ao programa, responsáveis por tal disparate!
 
É o que penso. E você?

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