Clébia, a 5ª mulher eleita vereadora na história de Resende Costa


Entrevistas

José Venâncio de Resende0

fotoClébia Resende foi eleita vereadora em Resende Costa e poderá ser a quinta mulher a ocupar uma vaga no Legislativo Municipal (foto arquivo pessoal)

Clébia Maria Resende, 49 anos, poderá ser, a partir de janeiro de 2025, a quinta vereadora da história de Resende Costa. Isto, considerando que a primeira terá sido Dona Maroca, da Fazenda Salvaterra, distrito de Jacarandira, que terá renunciado ao cargo em poucos meses devido às dificuldades de participar das reuniões da Câmara Municipal. As outras três vereadoras foram: Maria Luiza Cesconi (1983-1988) – presidente da Câmara Municipal no período 1985-1986; Geralda Aparecida R. Sousa (1991-1994); e Maria das Dores Silva (2001-2004 e 2005 – 2008). “Isso é motivo de muito orgulho para mim”, diz Clébia.

Formada em Ciências Naturais pela antiga FUNREI (atual UFSJ) e em Serviço Social pela UNITINS (Tocantins), Clébia é, desde 2015, coordenadora do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) de Resende Costa. Foi tecelã e picadeira de retalhos (1988) e por 25 anos é empresária no ramo de joias. Foi professora na E.M. Paula Assis (1995) e se tornou funcionária pública municipal (em 1996). Foi secretária municipal de Saúde na gestão de José Rosário (1998-2002) - e assessora do ex-prefeito Gilberto Pinto na mesma Secretaria (2003-2006); gestora do programa Bolsa Família (2009) e perita social da Justiça Federal (2018). Também participou da criação de um grupo de teatro em Resende Costa (1993) e da fundação do Grupo de Jovens Shalon (1997). É de sua iniciativa a proposta de criação do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, “um grande avanço para nossa cidade”.

 

Por que a decisão de ser candidata a vereadora? A decisão de me candidatar a vereadora veio de um desejo profundo de contribuir ainda mais para a minha comunidade, utilizando toda a experiência que adquiri em quase 30 anos de serviço público. Sempre trabalhei com dedicação na saúde, na assistência social e na gestão pública, buscando melhorar a vida das pessoas, especialmente das mais vulneráveis. Porém, minha motivação vai além disso. Ao longo da minha trajetória, presenciei situações que me causaram profunda indignação, como a violação de direitos humanos e o desrespeito ao povo por parte de quem deveria zelar por ele. Ver pessoas sendo maltratadas por quem está no serviço público é algo que me incomoda profundamente. Essas situações, nas quais me senti impotente, me despertaram a vontade de ocupar uma posição em que pudesse, de fato, ser fiscalizadora e lutar por justiça. Acredito que minha missão é trabalhar para garantir que os direitos do nosso povo sejam respeitados. Além disso, com 16 anos sem representatividade feminina na Câmara de Resende Costa, senti que era hora de trazer a força e a visão das mulheres para esse espaço. Quero ser uma ponte entre a população e o poder público, trabalhando com coragem e dedicação por uma cidade mais justa, inclusiva e humana.

 

Na sua opinião, por que tem sido tão baixa a presença de mulheres na Câmara Municipal? A baixa presença de mulheres na Câmara Municipal ao longo do tempo está muito ligada à tripla jornada enfrentada por muitas mulheres, que precisam conciliar trabalho, família e outras responsabilidades. Além disso, o machismo estrutural ainda é um grande obstáculo, pois, historicamente, a política foi vista como um espaço predominantemente masculino. Muitas mulheres não se sentem incentivadas ou não encontram apoio suficiente para ingressar na política. Essa realidade precisa mudar, e acredito que minha eleição seja um passo importante para abrir mais espaço para outras mulheres participarem e representarem a nossa voz na política local. Aproveito para humildemente expressar minha gratidão pelo reconhecimento que recebi em cada visita que fiz pedindo voto. Não foram votos conquistados por meio do serviço público, mas porque senti que as pessoas enxergaram meu jeito de ser, minha essência, a forma como trato as pessoas. Uma coisa não posso negar: quando veio o resultado de que fui eleita, as mulheres de Resende Costa vibraram com essa vitória. Também me orgulho de representar em Resende Costa o grupo nacional “Justiceiras”, que atua contra a violência doméstica. Sei o quanto nossas mulheres sofrem com essa realidade, e trabalho para que possam encontrar apoio, acolhimento e caminhos para viverem sem medo. O espaço que conquistamos é para lutar por mais dignidade e respeito para todas nós.

 

Por que você acha que deveria haver mais mulheres na Câmara Municipal? Eu acredito que deveria haver mais mulheres na política municipal porque o olhar da mulher é naturalmente acolhedor e apaziguador. Temos uma sensibilidade que nos permite observar com mais atenção os detalhes e as necessidades das pessoas. Além disso, a mulher costuma pensar na humanização das ações e políticas públicas, buscando soluções que não apenas atendam às demandas práticas, mas que também promovam dignidade e bem-estar para todos. A presença feminina na política traz equilíbrio, diversidade de ideias e uma abordagem mais empática para resolver os problemas da comunidade. Quanto mais mulheres participarem, mais vozes serão representadas e mais avanços alcançaremos, especialmente em áreas como saúde, educação e assistência social, que exigem essa visão mais sensível e humana. Precisamos conscientizar a sociedade de que somos cidadãs que não querem apenas flores, mas igualdade. Não queremos apenas elogios sobre beleza estereotipada ou o fato de sermos “perfumadas”. O que precisamos é que todos enxerguem que temos cabeças pensantes, ideias fortes e capacidade de transformar a realidade. Essa conversa vai além de qualquer “mimimi” de feminismo; trata-se de justiça, equidade e respeito. Ainda enfrentamos barreiras em diferentes esferas da sociedade. Se olharmos para figuras como Frida Kahlo, vemos exemplos de mulheres que quebraram padrões e se impuseram em contextos difíceis. Frida não somente pintava suas dores, como também sua força e sua luta por liberdade e autonomia. Inspirar-se nela é lembrar que a mulher não precisa se limitar ao que a sociedade espera, mas deve ocupar os espaços e conquistar sua voz onde quer que seja necessário.

 

Quais serão as suas prioridades no exercício do futuro mandato? Minhas principais prioridades estarão voltadas para áreas fundamentais que refletem as necessidades da nossa comunidade: Autismo (inclusão e assistência adequada para pessoas com TEA, tanto na saúde quanto na educação); Mulheres (políticas públicas que promovam igualdade de gênero e proteção contra a violência doméstica); Moradia (alternativas para garantir moradia digna às famílias em situação de vulnerabilidade); Saúde (fortalecimento do atendimento, garantindo qualidade e acessibilidade, especialmente na zona rural); Funcionalismo Público (atuação em conjunto com o sindicato para valorizar os servidores); Educação Infantil (investimento na base educacional para ampliar oportunidades às nossas crianças); Zona Rural (atenção às demandas das comunidades rurais, como infraestrutura e transporte); Artesanato (iniciativas que fortaleçam o artesanato local para valorizar quem cuida de nossa identidade cultural); Centro de Atendimento ao Cidadão (espaço na Câmara Municipal para que as pessoas sejam ouvidas, com serviços de orientação e encaminhamento); Pessoas com Deficiência-PCD (continuação da luta por inclusão, acessibilidade e políticas de equidade). Apesar da vontade de fazer a diferença, tenho os pés no chão para entender que preciso trabalhar dentro das possibilidades e limitações da função de vereadora.

 

Como foi a sua experiência no CRAS? Minha experiência no CRAS foi um divisor de águas na minha vida. Eu amadureci muito e mudei a visão que tinha sobre o que significa realmente ajudar. As famílias precisam ser capacitadas para conquistar seu próprio sustento, seu protagonismo, e isso ainda é um grande desafio em nossa sociedade, tão conservadora e baseada em um sistema capitalista que dificulta essa autonomia. Em Resende Costa, temos situações preocupantes, como pessoas que não precisam do Bolsa Família se inscrevendo para recebê-lo, enquanto outras realmente necessitadas acabam sendo deixadas de lado. Há também a questão de trabalhadores que preferem não ter a carteira assinada para continuarem recebendo o benefício, mas que, no futuro, enfrentam a falta de direitos trabalhistas e previdenciários, o que é algo que me preocupa profundamente. No CRAS, conheci de perto as dificuldades das pessoas e percebi como a sociedade é rápida em julgar, especialmente os mais vulneráveis. Muitas vezes, quem está em situação de pobreza é fruto de um ciclo que se repete por gerações. Como exigir que uma criança mal alimentada tenha um bom desempenho escolar ou consiga competir, no futuro, com outra que sempre teve acesso às melhores condições? Essa experiência no CRAS me aproximou ainda mais da realidade da nossa população e despertou em mim uma vontade imensa de fazer mais. Entendi que o assistencialismo não resolve tudo, mas também que há uma carência enorme de atenção, compreensão e oportunidades.

 

Como foi o seu envolvimento com as bordadeiras de tapetes de Arraiolos em Jacarandira? A minha experiência com o tapete de Arraiolos, no Distrito de Jacarandira, foi muito significativa e foi além das minhas expectativas. Criou-se um vínculo de amizade e um sentimento de proximidade com o distrito, embora distante fisicamente, devido à relação que estabelecemos com as pessoas de lá. Promovia inclusão produtiva, valorizava a cultura local dos tapetes e ajudava a transformar vidas, tirando pessoas de casa, da depressão e até do vício. Embora já tenha alguns anos, essa experiência continua muito viva e estamos planejando reativá-la, assim como aconteceu com a criação do Clube de Mães e Mulheres do bairro do Tijuco, que hoje é um espaço acolhedor e de fortalecimento para as mulheres. É um grupo que discute temas importantes, como direitos humanos, enfrentamento ao preconceito – especialmente contra as mulheres negras – e orientação sobre questões delicadas, como abuso e proteção de crianças e adolescentes.

Veja ainda: Câmara Municipal de Coronel Xavier Chaves tem maioria de vereadoras

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário