Peça de Natal “O Boi e o Burro” encerra atividades anuais de Tiradentes em Cena

Tudo sobre o festival Mostra de Artes Cênicas na entrevista com Aline Garcia, idealizadora e diretora do Tiradentes em Cena


Cultura

José Venâncio de Resende0

Eventos do Mês da Consciência Negra em Tiradentes (fotoThais Andressa)

A montagem especial para o Natal da peça O Boi e o Burro a Caminho de Belém, texto de Maria Clara Machado, é uma das últimas atividades em 2024 do Tiradentes em Cena. Para a montagem de “O Boi e o Burro”, foi formada uma turma de teatro amador a partir de uma oficina com o ator Chico Anibal. O grupo tem aula corporal, de canto e de dramaturgia, e ainda há o pessoal que faz a indumentária; “É uma construção coletiva”, resume Aline Garcia, idealizadora e diretora do Tiradentes em Cena

Escrita em 1953, a obra narra o nascimento de Jesus Cristo sob a perspectiva encantadora do Boi e do Burro, personagens clássicos do presépio. Com uma linguagem acessível e enriquecida por músicas natalinas, a peça mistura figuras históricas e fictícias – como pastoras, reis magos e anjos – em uma jornada emocionante e simbólica. Realizada pelo Núcleo Criativo do Tiradentes em Cena, sob a direção artística de Chico Anibal, a apresentação da peça ocorreu no momento em que a edição do JL se encontrava na gráfica.

Em novembro, o Tiradentes em Cena celebrou o Mês da Consciência Negra - um encontro pela cultura e identidade, em parceria com o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e com o apoio do Campus Cultural UFMG. A programação especial sobre cultura afro-brasileira levou dança, teatro, roda de capoeira, congados, exibições e rodas de conversa. Essas atividades promoveram “um aquilombamento cultural em Tiradentes, valorizando tradições e saberes afro-brasileiros e fortalecendo a conexão da comunidade com suas raízes culturais”, diz Aline.

E no dia 30 de novembro, no Largo das Forras, aconteceu o musical Ariano – O Cavaleiro Sertanejo, realizado por Os Ciclomáticos Companhia de Teatro. Seis Cavaleiros, à procura do lendário autor Ariano Suassuna, invadiram com música e poesia a cidade nordestina de Armorial. Eles contaram (e cantaram) a lenda do cavaleiro nordestino, que nasceu, amou, viveu e lutou usando as armas mais potentes: a pena e a tinta. “O cavaleiro andante, de mistérios e mitos, deixou seu legado, perpetuou suas histórias e foi intitulado: Ariano – O Cavaleiro Sertanejo.”

O principal evento do Tiradentes em Cena é o festival Mostra de Artes Cênicas, que acontece durante quatro dias, no mês de maio, mas que se desdobra em ações ao longo do ano. Este ano, o festival ocorreu no período de 2 a 5 de maio, quando houve a maior efervescência cultural com encontros de programadores culturais, mais de 30 espetáculos, performance, oficinas, exposição e ocupação dos espaços da cidade (dois palcos na rodoviária). Compareceram, por exemplo, representantes de Curitiba (PR) e da Argentina, “que olharam os espetáculos aqui para levar também para os seus festivais”, conta Aline.

Durante cada ano, são realizadas montagens de espetáculos, oficinas de teatro, trabalho com a comunidade etc.; “alguns espetáculos que a gente consegue trazer e fomentar fora do festival, justamente com esse perfil de criar hábitos culturais e de promover cultura”, explica Aline. Ou seja, “temos outras ações que fomentam a cultura local e também trazem espetáculos para circular aqui”. A ideia é que essas ações pontuais culminem, cada vez mais, “na formação de plateias, na construção de formatos culturais que estimulem as pessoas a prestigiar a cultura, a querer fazer oficina, enfim, manter esse formato”.

 

Mas tudo isso só é possível com patrocínio e apoio, assinala Aline. “Eu idealizei a Mostra, sou diretora e faço a captação de recursos; busco patrocínios para que a Mostra seja feita e eu consiga executar todas as ações. Nesse momento, estamos no processo de captação de recursos para realizar a Mostra em 2025.”

 

O que é o Tiradentes em Cena? Tiradentes em Cena é um evento anual de artes cênicas realizado em Tiradentes, Minas Gerais, com o objetivo central de democratizar o acesso às artes, oferecendo espetáculos, atividades formativas e experiências culturais. A Mostra de Artes Cênicas, um festival de alcance nacional, desempenha um papel fundamental na promoção da cultura, proporcionando um espaço para a troca de experiências entre artistas, diretores, produtores e público. Um legado rico. Em 2025, o evento acontecerá de 21 a 25 de maio, com uma programação ampla e inclusiva, construída com curadoria especializada e participação de artistas renomados. O Tiradentes em Cena é muito mais que um festival: é um encontro que celebra as artes cênicas, conectando e emocionando o público ao romper barreiras geográficas e de linguagem. O evento busca não apenas entreter, mas também provocar reflexões e estimular hábitos culturais, promovendo a divulgação que enriquece a experiência artística e o crescimento pessoal de cada espectador. Ao longo dos anos, o festival posicionou Tiradentes no circuito das artes cênicas, recebendo grandes nomes, como Bibi Ferreira, Matheus Nachtergaele, Teuda Bara, Elisa Lucinda, Zezé Motta e grupos, como Galpão, Armatrux, Os Geraldos e Maria Cutia, entre outros que contribuíram para o fortalecimento da cultura brasileira.

 

Explique melhor essa democratização das artes cênicas na região. A missão de democratizar a arte cênica permeia todas as nossas ações. Em uma cidade como Tiradentes, de identidade cultural vibrante, é essencial criar espaços para que diferentes públicos possam acessar espetáculos e atividades formativas na sua maioria gratuita. O Tiradentes em Cena oferece um palco para a diversidade cultural, promovendo encontros, conexões e trocas entre produções locais, nacionais e internacionais. Esse movimento fortalece a identidade cultural da região, promove circulação de espetáculos e estimula a economia criativa.

 

Quais foram os destaques recentes do Tiradentes em Cena? Entre os destaques recentes, está Raul Seixas – O Musical, apresentado no Teatro Municipal de São João del-Rei, que foi recebido com entusiasmo pelo público. Agora, em novembro, em parceria com o IPHAN e com o apoio do Campus Cultural UFMG, o Tiradentes em Cena celebrou a cultura afro-brasileira com uma programação especial, trazendo dança, teatro, capoeira, congados, exibições e rodas de conversa. Essas atividades promoveram um aquilombamento cultural em Tiradentes, valorizando tradições e saberes afro-brasileiros e fortalecendo a conexão da comunidade com suas raízes culturais.

 

Fale sobre a sua curadoria. A curadoria da programação artística, das oficinas e de toda a Mostra do Tiradentes em Cena é construída a várias mãos, por meio de diálogos contínuos com o território, com a comunidade e com o setor artístico de todo o Brasil. Para mim, a curadoria é essencialmente um diálogo com o público. Meu olhar busca formar público e despertar o desejo pela programação, por isso ela é tão diversa e plural. Ao construir uma programação variada, busco criar uma experiência acessível, com uma escala humana, permitindo que o público aproveite ao máximo. Desde o teatro contemporâneo até produções mais tradicionais, o que me importa é a qualidade das obras e o modo em que elas dialogam com o público. A Mostra precisa ser um espaço de encontro, de troca entre artistas e espectadores, de conexões no setor cultural. Além disso, a curadoria também depende da captação de recursos e das parcerias que conseguimos estabelecer, o que envolve ajustes constantes. Como ainda não contamos com fomento governamental regular para festivais e mostras, começamos do zero a cada edição, o que exige muita flexibilidade, jogo de cintura e nem sempre a programação que inicialmente planejamos. Minha curadoria também se alimenta de um olhar mais amplo, acompanhando espetáculos e visitando festivais, inclusive internacionais. Isso enriquece minha visão e me permite perceber as questões urgentes que precisamos trazer para a Mostra. O festival não deve ser algo que simplesmente acontece e desaparece. Ele precisa se integrar ao cotidiano da cidade, fazendo parte da vida cultural dos moradores e criando uma conexão real com a comunidade. Ao mesmo tempo, é importante atrair o público externo, como turistas e profissionais da cultura, criando um ambiente inclusivo e participativo para todos.

 

Acompanhe o “Tiradentes em Cena – Mostra de Artes Cênicas” pelo Facebook.

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