Pesquisadores da UFSJ-Divinópolis alertam para gravidade de problemas ambientais na saúde dos peixes da bacia do Pará

O descarte de lixo nos rios, como microplásticos e fármacos que confundem os peixes, é um dos maiores desafios a serem enfrentados.


Ciência e Tecnologia

José Venâncio de Resende0

Bacia do Rio Pará em Minas Gerais (foto: CBH Rio Pará).

Pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), campus de Divinópolis, analisam peixes da Bacia do Pará, rio que nasce no Cajuru, em Resende Costa, para avaliar impactos das mudanças ambientais. As pesquisas são desenvolvidas pelo Laboratório de Processamento de Tecidos (LAPROTEC), que estuda a saúde dos peixes em Minas Gerais. O campus de Divinópolis da UFSJ fica na região do médio Pará.

Criado há 14 anos, o Laprotec atualmente é coordenado pelos professores Ralph Gruppi Tomé e Hélio Batista dos Santos. Alunos de graduação, mestrado e doutorado da UFSJ trabalham em diferentes linhas de pesquisa. “O nosso laboratório tem os peixes como modelo de estudo, principalmente do ponto de vida da histologia”, explica o professor Ralph Tomé. São pesquisados vários pontos, como “a interação deles no ambiente, o comportamento da sociedade ao redor dos cursos d’água, além de realizarmos experimentos laboratoriais avaliando a presença de determinadas substâncias na água e a influência disso nesses organismos”.

Para isso, são coletados tecidos desses animais, como fígado, baço e as brânquias, para fazer análises microscópicas e monitorar modificações ambientais. Os estudos avaliam desde a presença de microplásticos no estômago dos peixes do Rio Itapecerica, um dos mais importantes da bacia do Rio Pará, até o impacto do descarte incorreto de fármacos, que contaminam os recursos hídricos e afetam a saúde dos animais, explica Jicaury Roberta, doutoranda em biotecnologia no Laprotec. “As pesquisas científicas querem explicar para a população como esse tipo de situação pode prejudicar ou influenciar nosso dia a dia de maneira geral.”

O laboratório conta com tecnologias avançadas para possibilitar diferentes experimentos. Em um dos equipamentos, os pesquisadores selecionam e cultivam embriões de peixes, para avaliar os estágios de desenvolvimento dos animais, desde a fecundação dos óvulos até a fase adulta. Os peixes da espécie zebrafish são os mais utilizados nos experimentos. O Laprotec conta ainda com um biotério, um espaço com vários aquários onde centenas de peixes são conservados para serem usados nos experimentos.

Descarte de lixo

De acordo com os pesquisadores, os estudos feitos no laboratório indicam que a falta de cuidado com o meio ambiente está provocando graves problemas ambientais na saúde dos peixes que habitam os rios da bacia do Pará. “O caso é grave”, alerta o professor Ralph Tomé que compara a situação com a de um paciente na UTI. “É possível recuperar, mas as ações precisam ser direcionadas nesse sentido. Não apenas iniciativas governamentais, mas também envolvendo a sociedade com ações simples, evitando o descarte de lixo, por exemplo, para termos efeitos positivos no futuro.”

O descarte de lixo nos rios é um dos maiores desafios a serem enfrentados. Os materiais jogados na água podem ser confundidos pelos peixes, que os acabam ingerindo. Isso tem provocado inúmeros problemas de saúde nos animais e até a mortandade de algumas espécies, observa Vitor Correa, mestrando em biotecnologia que atua no laboratório. “Nós estamos poluindo os rios, porém isso está retornando para a gente. Ainda não se discute muito sobre esse assunto, mas com as pesquisas estamos conseguindo grandes avanços e vamos reverter isso para a sociedade.”

Os coordenadores do laboratório destacam a importância das ações desenvolvidas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará. Um exemplo é o Plano de Educação Ambiental (PEA) do território, que prevê várias ações a serem desenvolvidas ao longo dos próximos anos para envolver a comunidade na preservação dos recursos hídricos. Só com mudanças urgentes no comportamento da sociedade é que será possível melhorar a qualidade de vida para os organismos que dependem dos rios, enfatiza o professor Ralph Tomé. “Com o nosso trabalho, esperamos transformar a sociedade. A ideia é levar conhecimento e, com isso, estimular mudanças para melhorar as ações no dia a dia das pessoas. Precisamos alertar sobre a importância da educação ambiental, porque esse é o único caminho.”

Municípios da bacia do Rio Pará

Além de Resende Costa, Araújos; Bom Despacho; Carmo da Mata; Carmo do Cajuru; Carmópolis de Minas; Cláudio; Conceição do Pará; Desterro de Entre Rios; Divinópolis; Florestal; Igaratinga; Itaguara; Itapecerica; Itatiaiuçu; Itaúna; Leandro Ferreira; Maravilhas; Martinho Campos; Nova Serrana; Oliveira; Onça de Pitangui; Papagaios; Pará de Minas; Passa Tempo; Pedra do Indaiá; Perdigão; Piracema; Pitangui; Pompéu; Santo Antônio do Monte; São Francisco de Paula; São Gonçalo do Pará e São Sebastião do Oeste.

Fonte: Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará 

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