Tatuagem ganha espaço em São João del-Rei e nas Vertentes


Notícia

José Venâncio de Resende / Emanuelle Ribeiro0

João Paulo e Jonathas, de Resende Costa

Da mesma forma que ocorre Brasil afora, a procura pela tatuagem cresceu visivelmente, nos últimos anos, em São João del-Rei e nos municípios das Vertentes. “Todo estúdio tatua o dia inteiro todo dia. Já tatuei gente de Belo Horizonte, de Resende Costa, das cidades vizinhas”, conta João Paulo de Andrade Fonseca, mais conhecido por Quester, do Skin Flower Tattoo & Piercing.

“A mídia hoje em dia está ajudando muito”, diz Cleiton Soares de Oliveira, o Juh do Empório Tattoo, que ganhou cinco prêmios nas últimas convenções de tatuagem de Juiz de Fora (dezembro passado) e do Rio de Janeiro (abril de 2011). “E tem as bandas novas que estão surgindo, mais puxadas para o pop, que sempre tem tattoo, alargador...” Esta repercussão contribuiu para a conquista de clientes não apenas em São João del-Rei, mas também em Resende Costa, Dores de Campos, Barbacena e outras cidades. Juh foi primeiro lugar em melhor abstrato e melhor oriental, no Rio de Janeiro, e melhor colorida em Juiz de Fora, além de segundo lugar em melhor “cover up” e melhor colorida (RJ).

Kadu, do Genium Art Studio, atribui a boa fase da tatuagem também ao fato de que “muita gente está deixando de ter preconceito. Hoje, estão vendo como arte mesmo; não é um marginal que tem tatuagem, o pessoal já vê a gente com outra cara”. Kadu também recebe clientes até de cidades como Belo Horizonte e Juiz de Fora. “O pessoal vem atrás do trabalho; vê a qualidade do trabalho.”

Quester trabalha com tatuagem há quatro anos. Como todo bom profissional do ramo, começou pelo desenho. “Eu comprava revistas e ia copiando os desenhos. Depois, eu comecei a fazer tatuagem, comecei em mim mesmo por curiosidade.” A primeira tatuagem de Quester foi em 2002, logo depois de deixar o Exército. Então, veio a fase dos cursos técnicos na Aloha Tattoo, em São Paulo, e de desenho em Contagem (MG). “Algum tempo depois, fiz mais um curso na Aloha Tattoo, de especialização em sombras e realismo.”

Juh começou há sete anos pelo desenho e a pintura. “Eu desenhava e pintava desde novo. Até então, eu não tinha interesse em ser tatuador. Até que fui enfermeiro e comecei a fazer piercing. O piercing puxou a tatuagem; então, eu comecei a tatuar.” No início, ele tornou-se sócio de outro tatuador e, há quase cinco anos, atua sozinho. “Eu já estava com estúdio aberto quando fiz curso de tatuagem no Ira Piercing, em Perdões.”

Kadu foi incentivado por amigos que tatuavam, mas já desenhava desde criança. “Eu comecei a desenhar com dez anos de idade. E já tenho cinco anos de tattoo.” Ele está em São João del-Rei vão fazer seis anos, vindo de João Monlevade. Nesse intervalo, passou algum tempo em Belo Horizonte onde fez curso na área.

Quester espelhou-se em nomes conceituados no setor como Ticano, Galo, Digão, Julio (de Barbacena) e o internacional Sancast, entre outros. “Eu tenho ainda os meus amigos Juh e Kadu, aqui de São João. Eu gosto muito dos caras.” Juh teve, e tem até hoje, como referência tatuadores tanto brasileiros quanto internacionais como Paul Booth, “que é um mestre no sombreado”, Brendo Bond, Nick Backster e Guy Aitchison. “A gente está sempre renovando.”

Forma de comunicação

Quester considera a tatuagem uma forma de comunicação e de expressão. “Acho que cada um tem um estilo, tatuagem é estilo próprio. Acho que é para mostrar um pouco o que a pessoa é mesmo.” A tatuagem é uma coisa muito pessoal. Então, não deixa de ser uma forma de comunicação e expressão, concorda Juh. Kadu, que trabalha também com piercing, enfatiza igualmente a força da expressão da tatuagem.

Daí porque os três profissionais têm grande satisfação quando estão tatuando. “É uma coisa inexplicável. Quando eu me vejo fazendo um trabalho, pra mim não tem nada igual”, diz Quester. “É muito bom”, confirma Juh. “Deixa a gente pra cima ver a satisfação da pessoa, quando está realizando um desejo dela sobre aquele desenho, sobre a forma de se expressar mesmo”, completa Kadu.

Mas nem tudo são flores, admitem os tatuadores. “O maior desafio foi começar do nada, sozinho, sair de casa, fazer curso, fazer especialização e montar o próprio estúdio. Até fazer o meu nome, eu tive que fazer muita tatuagem de graça. Mas valeu a pena”, diz Quester.

O difícil foi vencer o preconceito, admite Juh. “Sempre tem um pouco de preconceito, mesmo que não direto, inclusive até dentro da família mesmo. Mas hoje em dia isso já está bem superado, está mudando bastante.”

Kadu aponta a concorrência muitas vezes desleal das convenções de tatuagem. “Uma disputa covarde de outros profissionais da área (que) já deixa a gente bem esperto na vida, para batalhar.” Ele costuma frequentar a convenção internacional de tatuagem, em São Paulo.

No balanço geral, tatuagem para Quester e Kadu é “paixão e dedicação”. Para Juh, é “muita paixão”. Até porque “tatuagem não é moda, você faz para o resto da vida”, lembra Quester. Um alerta para aqueles que ingressam no meio iludidos pelo “modismo” porque vão acabar abandonando a carreira de tatuador no meio do caminho.

Tanto que os três são unânimes em dizer que desenho é pré-condição para ser um bom tatuador. “A noção que você vai ter de profundidade, de cor, de dimensão, tudo isso você vai desenvolver primeiro no desenho pra depois trazer para a tatuagem”, diz Juh. “Vale a pena investir mais em desenho, aperfeiçoar técnicas, fazendo curso para não chegar com a cara e a coragem tentando fazer, porque é uma coisa de muita responsabilidade”, acrescenta Kadu.

Marinheiro de primeira viagem

É comum alguém chegar a um estúdio, pela primeira vez, e pedir para tatuar o nome de uma pessoa, que pode ser o namorado ou a namorada, o marido ou a mulher. Qual deve ser a reação do tatuador? “É complicado”, diz Quester. “Eu tento conversar porque este também é o papel do tatuador, mas nem todos os clientes escutam. Se a pessoa quiser mesmo, eu tenho um livro com o termo de compromisso de cada tatuagem, a pessoa se responsabiliza.” “A gente dá conselho, alerta”, concorda Juh, “mas se a pessoa insistir, a gente tem que fazer.”

Kadu conta que já recusou trabalho porque a pessoa poderia arrepender-se, futuramente, do desenho escolhido. “A gente aconselha a pessoa a não fazer isso porque não se sabe o dia de amanhã, e a tatuagem é uma coisa definitiva.” Quester também já recusou trabalho por causa do desenho. “Eu falei que não ia tatuar o desenho que a pessoa trouxe e mostrei alguns estilos. Aí a gente fez. Cobertura, eu não pego algumas. Tem trabalhos que eu prefiro nem mexer porque já vem meio complicado.” Juh busca convencer o cliente de que é possível melhorar o desenho que ele trouxe. “Recusar, não.”

Quem vai tatuar pela primeira vez deve informar-se antes de escolher um estúdio, e a internet é um instrumento eficiente para esta consulta inicial. “A pessoa que decidir fazer uma tatuagem deve olhar site, facebook, as referências; pesquisar sobre o profissional e os seus trabalhos; procurar um estúdio que tem todos os requisitos de segurança, ver como o profissional trabalha, o material usado, os cuidados com a saúde e a higiene”, aconselha Juh.

Bom senso e responsabilidade são palavras cada vez mais comuns entre os profissionais da tatuagem. Menor de idade, por exemplo, só com autorização, diz Quester. “Antigamente, o pessoal não estava nem aí, principalmente esse povo que tatua em casa.”

Técnica, tecnologia e estilo

A técnica utilizada por Quester foi aprendida de outros tatuadores mais experientes. “Quando eu fiz curso a primeira vez, tinha três tatuadores no estúdio. E, à medida que praticava, fui vendo o jeito que achava mais fácil e fui trabalhando daquele jeito. Mas eu aprendi um pouco de cada um.”
Por sua vez, Juh introduziu no seu estúdio um tipo de máquina rotativa. “Eu acho que ela machuca menos a pele, a cor pega mais, ela é mais macia... E ela é um pouco mais silenciosa.”

Kadu juntou o próprio aprendizado com o conhecimento adquirido, por exemplo, de como aplicar a tinta. “Cada tinta se aplica de uma forma, cada cor você vai aplicar de um jeito. Aí depende do profissional mesmo.” Ele está sempre procurando novas tecnologias e novos equipamentos nas convenções e nos eventos de que participa.

As preferências pelos estilos variam pouco entre os tatuadores entrevistados. Quester gosta de oriental, sombreado e realismo. Juh, com a premiação em Juiz de Fora, passou a dedicar mais ao colorido. “Mas eu faço desde tribais até fotos.” Ele sempre procura ouvir a opinião do cliente que em geral chega com alguma proposta de desenho. “A gente vê que em cima daquilo dá para ampliar mais, para melhorar a ideia. Então, a gente tenta chegar a um consenso entre profissional e cliente, para que o cliente saia daqui satisfeito.” Kadu prefere o “oriental aberto, mais amplo”, mas gosta do preto-e-branco e do realismo. Nunca deixa de conversar com o cliente, para identificar a sua preferência pelo desenho.

Respeito e valorização

Para que a profissão seja mais respeitada e valorizada, Quester diz é indispensável saber o que é biossegurança; trabalhar com material esterilizado e descartável (cada tatuagem é numa pele diferente); usar luvas e máscara. “Se você for a um estúdio que não tiver autoclave (aparelho de esterilização), desconfie porque a autoclave é o único que é eficiente mesmo.” Juh acredita que houve grande evolução, nos últimos cinco a três anos, e Kadu considera fundamental seguir as normas de vigilância sanitária, até como forma de combater estúdios de fundo de quintal.

Para quem está começando na profissão, Quester aconselha que saiba desenhar, tenha humildade, respeite o cliente e trabalhe duro. Juh fala de força de vontade e de dedicação, pois “não é de uma hora para outra que a pessoa já vai virar um tatuador. É treinar cada vez mais, pois é uma coisa que você está sempre evoluindo, sempre aprendendo”. Kadu resume tudo na palavra especialização.

No exercício da profissão-arte, Quester considera gratificante ver o cliente do estúdio satisfeito com o trabalho, e até voltar pra fazer outra tatuagem. Juh, mesmo o tatuador ainda sendo “visto com outros olhos”, não se arrepende da opção. “Hoje em dia, eu sou quem sou por escolha; sou feliz, muito feliz com a minha profissão. Eu tenho o meu estúdio e estou sempre buscando crescer.” A gratidão da pessoa tatuada e a felicidade de ver o resultado da tatuagem gratificam a carreira de Kadu.

Os tatuados

Nos últimos anos, a tatuagem vem se tornando extremamente popular. Em 10 pessoas que conhecemos hoje, digamos que pelo menos metade delas tem desenhos pelo corpo. E para muitos, esses desenhos se originam da vaidade, são vistos como meras formas de enfeitar o corpo. Mas, por trás deles há muita história pra contar: são símbolos, frases ou palavras com fortes convicções, provas de amor a alguém ou a alguma coisa etc. Em Resende Costa, além do fato de se ter conquistado uma tolerância e liberdade maiores no atual século, a propagação da tatuagem se deve também à facilidade de se encontrar bons profissionais na região, principalmente em São João del-Rei.

Dalton Chagas, conhecido como Daltinho, fez sua primeira tatuagem no Genium Art Studio em São João del-Rei, com o tatuador David, em Dezembro de 2010. O jovem optou por fazer uma homenagem aos pais e então tatuou no braço direito as palavras: Pai e Mãe Eternos. Tal gesto significa muito para Dalton: “É uma homenagem às pessoas mais importantes e mais queridas da minha vida, porque sem eles eu sei que não sou nada. As pessoas que viram acharam legal, mas o que importa mesmo é o sentido da tatoo e meus pais terem gostado”. Daltinho foi alertado sobre a possibilidade de sua tatuagem lhe atrapalhar de alguma forma no futuro, mas para ele o que importa é o presente: “Eu não gosto de pensar no futuro, quando tenho vontade de fazer alguma coisa eu apenas faço”.

“Sempre fui doido por tatuagens e fiz uma do Galo, porque é a única certeza que tenho de uma paixão que nunca vai mudar e nem acabar”, declara o resende-costense Ryan Maia. Sua única tatoo é recente, ele a fez em Abril passado com o Juh do Empório Tattoo e é uma homenagem, como afirmou, ao seu time do coração: ele tatuou no braço direito o escudo do Atlético-MG, como se esse fosse sua segunda pele. Segundo Ryan, a maioria das pessoas que vêem o desenho fala que ele é doido (risos), outras dizem que é uma forma de provar o quanto ele torce pelo Galo. Para ele, a tatoo não atrapalhará em nada, pois o preconceito contra tatuagens está acabando e já passou a época em que as pessoas relacionavam os tatuados com a marginalidade ou irresponsabilidade. “Essa tatuagem significa meu amor por esse clube que vou levar até depois que eu morrer. Eu pensei bem antes e por isso escolhi esse desenho, pois sei que não vou me arrepender: o Atlético é tudo pra mim”, conclui Ryan.

A estudante de Farmácia da UFSJ, Tatiane Ramos, fez sua primeira tatuagem em Janeiro de 2009, também no Genium Art Studio, mas com o tatuador Kadu. E sua primeira e única tatoo carrega uma ideia forte: ela tatuou no lado esquerdo das costas as cinco estrelas referentes ao seu time do coração, uma prova de amor ao Cruzeiro: “As pessoas custam pra acreditar que eu fiz essa tatuagem pelo Cruzeiro. Todos falam que eu tenho muita coragem”. Segundo a estudante, a ideia de fazer essa tatuagem surgiu a partir de fotos que ela tinha visto na internet e ela não acha que isso possa causar algum problema, pelo fato de ser bem discreta e pela área profissional que pretende atuar.

A estudante de Jornalismo da UFSJ, Laís Gottardo, possui duas tatuagens, mas pretende fazer outras. Ela fez as duas tatoos juntas em Fevereiro desse ano em Jundiaí (SP). Todas as duas são escritas: a primeira, no braço esquerdo, são duas palavras pelas quais a estudante se guia, Destino e Sorte, e estão desenhadas em Tailandês. Já a segunda tem um significado mais forte para a estudante: É um mantra indiano (Jai guru Deva) que ela tatuou na costela esquerda. “Eu sou fã dos Beatles e em uma música deles tem esse mantra, então eu pesquisei o significado e vi que era um agradecimento a Deus. Aí eu juntei os dois, fiz a tatuagem por ser uma homenagem aos Beatles e a Deus, pois eu vivia um período que tinha muito a agradecer”, conta Gottardo. Laís também pensou bastante antes de fazer as tatuagens pela preocupação com seu futuro profissional, mas segundo ela, mesmo que elas possam atrapalhar, ela se preocupou com a beleza e fez uma coisa que carregará com orgulho para o resto da vida.

SERVIÇO:

Slin Flower Tattoo & Piercing
Shopping Hills – Sala 26 A – Centro – São João del-Rei
E-mail: [email protected]

Emporio Tattoo Juh
Rua Dr. Balbino da Cunha, 60, Sala 401 – Centro – São João del-Rei
E-mail; [email protected]

Geniun Art Studio
Rua Marechal Deodoro, 136, Sala 04 – Centro – São João del-Rei
E-mail: [email protected]

Informações gerais sobre tatuagem
Site: www.revistatatuadores.com.br