– Que tempo! Como tá tu?
– Tô bem. Mas andei passando por cada uma...
– O que foi, amigo? Conta pro Juca aqui.
– Vou falar de maneira franca, Juca.
– Pode meter o pé na jaca, Brito.
– Lembra do meu tio Rodolfo Massa?
– Dono daquele time de futebol que nunca ganha?
– Esse mesmo. Ele me pediu uma mão pra melhorar a equipe.
– Você aceita cada!...
– A primeira coisa que fiz foi ensinar ao time o nosso hino.
– Não percebi cheiro de bola aí.
– Calma! A bola só rolou depois das instruções e do cooper. Só jogaram os com o cooper feito.
– E a moçada marca gol?
– Vencemos os jogos do campeonato. Todos os jogadores marcaram cinco gols... cinco cada um.
– Beleza! Seu tio Rodolfo deu algum dinheiro pra você?
– Nem toca nisso. Mandou procurar ele em casa. Fui. Topei dando com o nariz na porta.
– Pô, rapaz, o cara fugiu?
– Vez passada eu voltei lá. Falaram que virou vaqueiro lá pros lados do Pantanal. Agora ele toca gado.
– Lute por seus direitos, meu amigo! Você investiu tempo lá. Isso é uma situação que se disputa.
– Tempo tá lá, né? Muito tempo.
– Já que tinha de ser assim...
– Tenho uma má sorte.
– Não ponha a culpa nela. Um dia, uma fada ainda aparece em sua vida. De repente, uma herança: e você fica como herdeiro.
– Essa fada... nunca sei quando virá.
– Mudando de assunto, ouvi pela dona Clotilde, sua mãe, que você tá caçando.
– Pois é, tô voltando do mato agora. Pato tinha, mas só peguei pacu.
– Uma minha curiosidade: papel azul... papel creme... Que papel azul é esse aí? Você usa para guardar o quê.
– É pacu sujo.
– Sei, tá. E o creme?
– É pacu assado. Assei no mato. É bom não misturar os pacus.
– Bem, vou-me já.
– Eu também. Foi bom bater papo contigo.
– Já ia me esquecendo. Minha filha fez quinze anos. Tá uma gata bela. Fiz uma festa linda para a Noemi Joana.
– Parabéns! Quero ver o álbum dela.
– Até logo! Um dia acho você de novo.
– Até lá vou esperar.