– Alô?! É o Zé?
– Alô! Sim, é o Zé.
– Oi, Zé! Aqui é a Carol.
– Tudo bem, Carol?
– Espere aí... essa voz não é a do Zé que eu estou procurando. Desculpe, liguei pro Zé errado. Tchau!
Zé errado... Eu sou o Zé Errado.
Se existe o Zé Errado, então existe também o Zé Certo. E quem é ele? Onde ele está? Ele é o meu eu ao contrário ou o meu eu aperfeiçoado?
Pelo menos, uma coisa eu posso afirmar: o Zé Certo não comete os erros que cometo, certo?
Na escola, sempre me atrapalhei com os números. Errava tanto as contas que era mais do que Zé Errado: era Zé Absurdo. O Zé Certo acertaria todas, certamente.
Sou míope. Um dia, aplaudi emocionado a manobra radical de um avião da Esquadrilha da Fumaça... lá no alto. Errei: era um urubu. O Zé Certo jamais seria bicado pela miopia, com certeza.
E minha relação com o tempo? Sou fiel e assíduo ao atraso. Sempre arrumo umas coisinhas pra fazer na hora em que eu deveria estar fazendo outras coisas. O Zé Errado acaba sempre chegando atrasado. E o Zé Certo? Sempre pontual, certeiro.
Sou o Zé Errado, que muitas vezes acreditou que as madrugadas não amanheciam... e às vezes nem eram madrugadas.
Não conte pra ninguém, mas eu nunca aprendi a assoviar. Nas vezes em que tentei, fiz um biquinho de francês com asma e chiei que nem pneu esvaziando.
Coisas do Zé Errado.
Enquanto isso, o Zé Certo fica na dele, acertando todas. E ainda é ventríloquo da minha consciência. É alter ego idealizado, perfeição distante, completude que virá depois do meu fim.
Já que não sou o Zé Certo, contento-me em ser simplesmente um certo Zé. Cheio de erros, é verdade.
Zé Errado porque vivo... e é impossível viver sem tropeçar.
Zé Errante porque amo... e é impossível amar sem sentir saudade do porto.
Zé Errata porque escrevo... e é impossível escrever sem voltar pra fazer de novo.
E o Zé Certo?
O Zé Certo, na certa, é uma transformação e não um encontro. Por mais que o procurem, ninguém o encontrará pronto.
Nem a Carol.