Cinema

Indiana Jones e o reino da caverna de cristal / Meu nome não é Johnny

16 de Novembro de 2008, por Carina Bortolini 0

O ressurgimento de uma lenda, o retrato da juventude sem limites, a negação e fuga daquilo que conhecemos como sociedade civilizada: três lançamentos muito bacanas que indico pra vocês!..

INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, EUA)
Gênero: Aventura
Direção: Steven Spilberg
Duração: 124 min.
Ano: 2008


Após dezenove anos, um novo filme do Indiana Jones. E com Harrison Ford. Quem diria! Muitos questionaram se o ator não estaria velho demais para o papel do herói. Aí é que reside o grande trunfo do filme: não tentaram colocar Ford como um belo e lépido rapaz, mas sim, respeitaram a sua idade e o tempo que passou, inclusive na história. Ele não é mais aquele jovem musculoso e incansável, mas permanece tão arguto e sagaz como antes (e tão másculo e vivaz quanto é possível – o que não é pouca coisa). Desta vez, a aventura se passa na década de 50, e Indiana se envolve no mistério em torno de uma caveira de cristal em plena Guerra Fria. O primeiro par romântico de Indiana (em Os Caçadores da Arca Perdida), Marion Ravenwood (Karen Allen), volta com todo o fôlego – fiquei feliz por não terem escolhido uma garota de vinte e poucos anos para o papel. E temos ainda Cate Blanchett, como uma soviética muito malvada. Muita ação, humor e a dose de ficção que não poderia faltar num filme da série. A parceria de George Lucas e Steven Spilberg retorna inspirada e bem sucedida. Classificação: 12 anos.


MEU NOME NÃO É JOHNNY (Brasil)
Gênero: Drama
Direção: Mauro Lima
Duração: 120 min.
Ano: 2008


Engraçado como Selton Mello parece onipresente nos bons filmes nacionais. Eis aqui mais um acerto: baseado na história real de João Guilherme Estrella, este drama envolve o espectador. João (Selton Mello) é um jovem pertencente à classe média alta carioca no início dos anos 80. Não teve limites, principalmente após a separação dos pais: vivendo com seu pai, um libertário, realizava festas de arromba diariamente em sua casa. De mero usuário de drogas, Estrella passa a vendê-las a seus amigos. Deslumbrado pelo dinheiro fácil, ele se torna o distribuidor da mais pura cocaína da zona sul do Rio de Janeiro, negociando sua mercadoria com traficantes graúdos. Mas sua intenção não era ganhar dinheiro, e sim, gastá-lo. Toda a fortuna que conquistou ele torrou em festas, drogas para uso pessoal, bebidas, viagens. A segunda parte do filme, mostrando Estrella num presídio e depois num manicômio judicial, revela como ele começou a atentar para a gravidade do que fazia – antes, era completamente alienado e inconseqüente. O elenco conta com Julia Lemmertz (mãe de João), Cléo Pires (sua namorada maluquete) e Cássia Kiss (juíza do caso), dentre outros. Não deixem de assistir, nos extras do DVD, ao depoimento do verdadeiro João Estrella, hoje produtor musical. Meu nome não é Johnny é um fiel retrato da juventude de hoje, muitas vezes irresponsável e imatura em relação ao uso e comercialização de drogas. Classificação: 14 anos.


NA NATUREZA SELVAGEM (Into the Wild, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Sean Penn
Duração: 140 min.
Ano: 2007


Sean Penn é um dos meus atores favoritos. E devo dizer que, como diretor e produtor, ele se aprimora a cada dia. Na Natureza Selvagem foi indicado ao Oscar nas categorias Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Edição, merecendo elogios rasgados da crítica por seu roteiro, fotografia, direção e atuações. Trata-se de outro filme baseado numa história real, e desta vez o protagonista é Christopher McCandless. Após sua formatura e prestes a iniciar o curso de Direito em Harvard, McCandless (Emile Hirsch) decide deixar tudo para trás. Quando digo tudo, me refiro a realmente tudo que simboliza a sociedade civilizada: família, dinheiro, carreira, amigos, lar e até a própria identidade. Viajando pelos Estados Unidos, ele morou em diversos lugares, trabalhou em outros tantos e conheceu várias pessoas. Seu objetivo final, o Alasca. Acima de tudo, McCandless queria chegar ao estado gelado e se integrar – e se entregar - completamente à natureza selvagem, sem qualquer vestígio de civilização ou convenções sociais por perto. Aprendeu a caçar, reconhecer as ervas comestíveis e as não comestíveis e, principalmente, se alhear do mundo que conhecia. Na tentativa de justificar tal atitude aparentemente insana, alguns parentes e amigos revelaram que o que o jovem queria era fugir da hipocrisia reinante em sua família, ao descobrir que seu pai autoritário escondia um passado obscuro. Mas, ao desvelarmos seu caráter e sua natureza, através das lembranças de sua querida irmã, percebemos que o infortúnio familiar fora apenas o estopim para que o prurido pela vida selvagem existente em McCandless eclodisse. Um belíssimo filme, tanto em relação ao roteiro quanto em relação à maravilhosa fotografia, revelando as mais lindas paisagens americanas. E anotem aí: Emile Hirsch ainda vai dar muito que falar nos festivais de cinema. Classificação: 12 anos.

O Sobrevivente / Invasão de domicílio

11 de Outubro de 2008, por Carina Bortolini 0

Volto, este mês, a indicar três lançamentos em DVD. Preparem a pipoca!

O SOBREVIVENTE (Rescue Dawn, EUA)
Gênero: Drama / Aventura
Direção: Werner Herzog
Duração: 126 min.
Ano: 2006


Werner Herzog, diretor instintivo e autêntico, ficou fascinado pela façanha vivida pelo piloto germano-americano Dieter Dengler, que integrou a marinha americana na incursão militar que viria a eclodir na Guerra do Vietnã. E não é para menos: o tenente Dengler é um personagem que, não soubéssemos ser real a história, pareceria haver saído da literatura mais fabulosa. Em uma missão que consistia num sobrevôo sobre o Laos, o avião de Dengler é atingido e cai. Na selva totalmente inóspita, o tenente é capturado e feito prisioneiro. Submetido a torturas dantescas e confinado numa espécie de cabana abjeta e primitiva, Dengler só tem uma certeza: ali não ficará por muito tempo. Incitando os outros prisioneiros a participar da fuga suicida que planeja, o tenente torna-se um líder. O mais extraordinário do filme, entretanto, é o caráter de Dangler, soberbamente interpretado por Christian Bale (célebre por sua atuação em filmes como O Operário, O Grande Truque e os dois últimos Batman). Dieter Dangler chega a assustar com seu otimismo inabalável e senso de humor a qualquer prova. Certamente era hipomaníaco, ou seja, extremamente autoconfiante, otimista e temerário. Nem as situações mais desesperadoras o fizeram perder o controle ou a certeza de que tudo sairia bem; nenhum risco a correr foi capaz de fazê-lo sentir medo ou hesitar. Um homem impressionante, um ator estupendo, um diretor delirante, um filme fantástico. Classificação: 14 anos.


INVASÃO DE DOMICÍLIO (Breaking and Entering, EUA/Inglaterra)
Gênero: Drama
Direção: Anthony Minghella
Duração: 120 min.
Ano: 2006


Will (Jude Law) é um próspero arquiteto que acaba de instalar seu escritório num bairro violento de Londres, onde intenta realizar um projeto de reestruturação. Logo na inauguração, o escritório é roubado, o que acontece novamente dias depois. Indignado com a situação, Will monta guarda nas redondezas e, ao presenciar alguém tentando invadir o local, o segue e descobre onde o ladrão mora. O delinqüente em questão é Miro, um refugiado bósnio que vive com sua mãe, Amira (Juliette Binoche), e pratica diversos delitos a mando de seus parentes bósnios que vivem no bairro. Na intenção de investigar o roubo, Will se aproxima de Amira fingindo-se de cliente da mesma, que é costureira. Mas o que era para ser apenas um encontro planejado acaba por sacudir a vida de Will, em crise no casamento com a tensa Liv (Robin Wright Penn, esposa de Sean Penn). Liv tem uma filha autista e deixou sua existência de lado para viver em função dela; Amira sofre de uma carência justificada pela saudade de seu povo, de sua crença, de seu país; Will é o típico narcisista e egocêntrico dos nossos tempos. Esses personagens e outros tantos irão construir este drama contemporâneo, que trata de questões que estão todos os dias aí, à nossa porta, na TV, nos jornais. Só faço uma ressalva para a mania de Minghella de sempre tentar amenizar as coisas, evitando o inevitável colapso das relações humanas. O desfecho soa inverossímil e débil, mas as atuações e o enredo até então fazem o filme merecer esta indicação. Classificação: 16 anos.


O PREÇO DA CORAGEM (A Mighty Heart, EUA/Inglaterra)
Gênero: Drama
Direção: Michael Winterbottom
Duração: 100 min.
Ano: 2007


Brad Pitt produz e Angelina Jolie atua neste drama com ares de documentário, que conta a triste história real de Mariane e Daniel Pearl. Casados e ambos jornalistas do Wall Street Journal, eles passam a viver no Paquistão para cobrir a situação no Oriente Médio pós-11 de setembro. Quando Mariane (Jolie) estava grávida de 5 meses, Daniel (Dan Futterman) sai para entrevistar um homem supostamente envolvido com ataques terroristas e não volta: é feito refém de jihadistas, que querem usá-lo como moeda de troca. O filme mostra, a partir do seqüestro, o esforço das autoridades paquistanesas para que o caso não termine em tragédia e, consequentemente, num incidente diplomático para o país; a interferência do consulado americano e do Wall Street Journal; os preconceitos arraigados que as inúmeras guerras na região validaram e, principalmente, a incrível força e equilíbrio de Mariane, apesar de todo o sofrimento. Sem dúvidas é a melhor atuação da carreira de Jolie, que está transformada fisicamente. Mais não posso comentar, pois há quem não saiba qual foi o final desta história. Mas, mesmo para quem se lembra, vale muito a pena assistir. Classificação: 12 anos.

Cinema

08 de Setembro de 2008, por Carina Bortolini 0

Acho muito engraçado quando, em uma conversa na qual o assunto é a sétima arte, escuto: “Ah, mas este filme é de arte, não tenho paciência.” Há um preconceito com os chamados filmes “de arte”: pressupõe-se que são chatos, lentos, complicados. E há também quem assista e comente os filmes assim chamados para parecer intelectualizado, erudito, cult (aliás, essa também uma denominação comumente utilizada para o estilo de filme que aqui comentamos). Na verdade, considero tudo isso uma bobagem. Muitos deixam de assistir a produções maravilhosas, inteligentes e compreensíveis por se tratarem de filmes “de arte”. Confesso, alguns são um pouco complexos, mas pensar um pouco não faz mal a ninguém!... É difícil classificá-los, mas geralmente são filmes mais densos, profundos, em que o diretor quer sempre dizer algo mais do que os sentidos da visão e audição podem captar instantaneamente.

Os principais “culpados” por este gênero artístico são os franceses. E de lá vieram preciosidades cinematográficas. Só para citar alguns mais recentes, temos o esplêndido Todas as Manhãs do Mundo (França/1991/Alain Corneau), com Gérard Depardieu; o atordoante e incômodo Lua de Fel (França/Inglaterra/1992/Roman Polanski); e um dos meus filmes prediletos, o genial, belo e delicadamente divertido O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (França/2001/Jean-Pierre Jeunet). Não faz muito tempo que assisti ao misterioso e elaborado Caché (França/Áustria/Alemanha/Itália/2005/Michael Haneke), esse sim, possui muitas cenas estáticas e um final aparentemente incompreensível. Mas há certos filmes que exigem um pouco de empenho do espectador: ao procurar na internet informações sobre o mesmo, li uma crítica muitíssimo bem feita que elucidou todo o brilhantismo do roteiro e direção. Resultado: amei o filme.

O diretor dinamarquês Lars Von Trier abalou o mundo do cinema ao lançar o estupendo musical Dançando no Escuro (França/2000), com a excêntrica cantora esquimó Björk como protagonista. Quando pensaram que ele não poderia fazer nada mais revolucionário, lançou sua obra-prima, Dogville (França/2003), no qual a cidade onde se passa a história é desenhada com giz no chão de um cenário em negro e Nicole Kidman vive a sofredora Grace. Dizem que, durante as filmagens, Von Trier maltratou-a tanto que a fez perder o controle, a ponto de ela querer desistir do papel. Ao vê-la chegar a seu limite, revelou que aquilo era apenas uma estratégia para fazê-la compreender a alma da personagem.

Há alguns filmes “de arte” de estilo meio amalucado, onde fenômenos estranhos e eventos impossíveis acontecem. Assim o clássico Laranja Mecânica (Inglaterra/1971/Stanley Kubrick); os psicodélicos Magnólia (EUA/1999/Paul Thomas Anderson), Quero Ser John Malkovich e Vanilla Sky (EUA/2001/Cameron Crowe) – e seu original, em espanhol, Preso na Escuridão (Espanha/1997/Alejandro Amenábar) -; além de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (EUA/2004/Michel Gondry), outro de meus favoritos, com atuações perfeitas de Jim Carrey e Kate Winslet.

Posso citar ainda os violentos e alucinantes Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994/Quentin Tarantino) e Oldboy (2004/Park Chan-Wook), o primeiro um marco do cinema americano e o segundo uma revelação do cinema sul-coreano. O Canadá internacionalizou suas produções com o satírico O Declínio do Império Americano (1986/Denys Arcand); e sua continuação filmada quase duas décadas depois, As Invasões Bárbaras (2003/Denys Arcand), foi aplaudida e premiada.

O cinema brasileiro também tem seus expoentes. Eu ainda era uma iniciante no mundo da sétima arte quando assisti ao idílico A Ostra e o Vento (1998/Walter Lima Jr.), com Lima Duarte, Fernando Torres e Leandra Leal. Em Nina (2004/Heitor Dhalia), Guta Stresser, a Bebel de A Grande Família, mostra todo seu talento para o drama numa versão nacional de Crime e Castigo, de Dostoiévski. Incluo nesta lista o excelente O Vestido (2004/Paulo Thiago), com Gabriela Duarte e Leonardo Vieira.

Para aqueles que querem se iniciar no gênero, recomendo os lindíssimos e facilmente digeríveis Cinema Paradiso (Itália/1988/Giuseppe Tornatore), Kolya – Uma Lição de Amor (República Tcheca/1996/Jan Sverák), O Piano (Nova Zelândia/1993/Jane Campion), Billy Eliot (Inglaterra/2000/Stephen Daldry), Moça com Brinco de Pérola (Inglaterra/2003/Peter Webber)... São tantos! Afinal, tem filme “de arte” para todos os gostos. Experimente! Prometo uma próxima edição...

O caçador de pipas / Antes de partir

12 de Agosto de 2008, por Carina Bortolini 0

Um drama adaptado de um best-seller, uma comédia dramática e um drama com ares de filme policial baseado em fatos reais. São estes os lançamentos que indico nesta edição:

O CAÇADOR DE PIPAS (The Kite Runner, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Marc Forster
Ano: 2007

Gostaria de ter lido o livro antes de assistir ao filme, mas a curiosidade era grande! Marc Forster é um diretor de filmes incríveis já indicados aqui, como Em Busca da Terra do Nunca e Mais Estranho que a Ficção. Que sorte do autor afegão Khaled Hosseini ter sido Forster a adaptar seu maior sucesso editorial (de nome idêntico ao filme)! O diretor americano teve o cuidado (e a coragem, tendo em vista a aversão do espectador a legendas) de respeitar o idioma em todas as cenas em que ele era exigido, bem como utilizou um elenco maravilhoso e desconhecido do grande público para todos os papéis. Na Cabul dos anos 70, Amir (Zekeria Ebrahimi) e Hassan (Ahmad Khan Mahmidzada) são dois amigos que crescem juntos. Amir é rico e mora com o pai; já Hassan é filho de Ali, empregado da família há quarenta anos. Amir é um garoto tímido e gosta de escrever histórias, enquanto Hassan é valente, tem o dom de caçar pipas e nutre verdadeira adoração pelo amiguinho. Apesar de também adorar Hassan, Amir passa a se sentir muito enciumado com o amor e admiração que seu pai nutre pelo garoto. Aquele que deveria ser o dia mais feliz da vida dos meninos, quando ganham o campeonato de pipas, é marcado por um triste episódio: Hassan suportará um sofrimento desumano pela amizade e fidelidade a Amir, que, escondido, a tudo assiste sem defender o amigo. A culpa e a vergonha que Amir sentirá por sua própria covardia transformar-se-ão em ódio por Hassan, sentimento que culminará na separação de ambos. Décadas mais tarde, morando nos Estados Unidos, Amir receberá um telefonema que lhe dará a chance de tentar corrigir as injustiças e erros do passado. O filme tem como pano de fundo as transformações políticas do Afeganistão, como a invasão do país pelos soviéticos e a tomada do poder pelo cruel governo talibã. Um tratado sobre amizade, arrependimento e lealdade. É de emocionar. Classificação: 14 anos.

ANTES DE PARTIR (The Bucket List, EUA)
Gênero: Comédia Dramática
Direção: Rob Reiner
Ano: 2007

Num quarto de hospital, Carter Chambers (Morgan Freeman) e Edward Cole (Jack Nicholson) se conhecem. Carter trabalha há quase 50 anos como mecânico e está ali se submetendo a um tratamento experimental para combater o câncer, enquanto Cole (Jack Nicholson) é dono do próprio hospital e não pode ter um quarto só para si pois sempre pregou que em seus hospitais todo quarto precisa ter dois leitos para que seja viável financeiramente (e está enfrentando um processo judicial por isso). Edward também está com câncer e, após ser operado, descobre que, como Carter, tem poucos meses de vida. Cole encontra a lista da bota escrita por Carter: tudo o que ele gostaria de fazer antes de bater as botas. Havendo construído uma verdadeira amizade com Carter durante a internação, Cole propõe ao amigo que saiam daquele hospital e realizem os desejos da tal lista e muito mais. Entre tatuagens, skydiving e viagens por todo o mundo, os protagonistas tratam com humor e leveza temas como a velhice, a doença e a morte. Ótimo filme para toda a família. E poder-se-ia esperar menos da dupla Freeman/Nicholson? Classificação: 10 anos.

O GÂNGSTER (American Gangster, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Ridley Scott
Ano: 2007

Ridley Scott, diretor do sucesso O Gladiador, acertou ao unir dois mestres da interpretação do cinema atual: Denzel Washington, como um dos mais influentes traficantes de droga da história americana, e Russell Crowe, no papel do honesto detetive que desvenda a engrenagem dos negócios do criminoso. Após a morte de seu mentor, o chefão do crime no Harlem, Frank Lucas (Washington) assume a liderança do tráfico em Nova York (e depois de todos os Estados Unidos) através de uma ousada artimanha: tirando proveito da Guerra do Vietnã, comprava heroína puríssima diretamente com os produtores do Sudeste Asiático. Usando os transportes militares para trazer a droga para dentro do país, Lucas acabou com a concorrência oferecendo-a mais pura a um preço muito mais baixo. Enquanto Frank Lucas se enchia de milhões de dólares e desfrutava de seu imenso poder, Richie Roberts (Crowe) recebe a incumbência de desbaratar o esquema do tráfico de drogas na cidade, que corrompia quase a totalidade dos policiais locais. O filme, inteligentemente, não cai no clichê do mocinho-e-bandido, mostrando como Richie sabe ser desonesto em outras áreas de sua vida que não a carreira e como Lucas consegue se manter religioso e apegado à família. Vale ressaltar que os 157 minutos de filme não o deixam enfadonho, mas contam com detalhes uma história que nem parece ter acontecido de verdade (especialmente pelo final surpreendente...). Classificação: 16 anos.

No vale das sombras / A conquista da honra

05 de Julho de 2008, por Carina Bortolini 0

Coincidentemente, os três lançamentos que trago nesta edição giram em torno da guerra, seja ela real ou fictícia. Interessante para vermos diferentes pontos de vista sobre um mesmo tema, todos com excelentes direções. Confiram!

NO VALE DAS SOMBRAS (In the Valley of Elah, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Paul Haggis
Ano: 2007


Neste filme soberbo, Tommy Lee Jones é Hank, um militar aposentado que procura por seu único filho: o rapaz teria voltado da guerra do Iraque, mas está prestes a ser considerado desertor pelo exército por não haver se reapresentado ao pelotão após uma suposta noite de farra. Inconformado com o sumiço do filho e com o fato do mesmo não haver sequer ligado para seus pais após seu retorno da guerra, Hank começa a investigar o que teria acontecido. As explicações que lhe são dadas pelo comando militar não o convencem por não coincidirem com o temperamento e caráter do filho que conhece, o que o leva a procurar a ajuda da detetive de polícia Emily (Charlize Theron, em mais uma convincente demonstração de que tem muito mais que beleza). À medida que o filme deslancha o espectador é levado a imaginar teorias conspiratórias e a conjeturar quem teria dado um fim no garoto, mas é aí que mora o grande trunfo de Paul Haggis: o que de fato acontecera é muito mais terrível do que qualquer suspeita do pai, justamente por não haver um culpado palpável. Susan Sarandon emociona ao interpretar a mãe arrasada pela tragédia em sua família. Tommy Lee Jones recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator por tal atuação, e injustamente não a levou. Ele deixa transparecer a essência do filme nos olhos de seu personagem: a perplexidade diante da guerra, especialmente essa guerra que começou sem um justo motivo e se estende sem ter alcançado sequer um resultado louvável. É tocante a cena em que Hank se dá conta de que poderia, talvez, ter evitado o infortúnio ocorrido com seu filho, ao se lembrar de um telefonema que esse lhe fizera. Esta é uma história de como a guerra muda tristemente a natureza e a índole daqueles que se envolvem nela, tornando-os irreconhecíveis. Devastador. Classificação: 14 anos.

A CONQUISTA DA HONRA (Flags of Our Fathers, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Clint Eastwood
Ano: 2006


Só agora vim a assistir ao ponto de vista americano da batalha de Iwo Jima, a outra parte da empreitada de Eastwood que resultou também no filme Cartas de Iwo Jima (já comentado nesta coluna) – o ponto de vista japonês. É verdade que Cartas seja superior a Conquista, o que de forma nenhuma quer dizer que este filme não seja ótimo. A sangrenta batalha pela posse da ilha de Iwo Jima, durante a Segunda Guerra Mundial, gerou uma imagem-símbolo da guerra: cinco fuzileiros e um integrante do corpo médico da Marinha erguendo o mastro da bandeira dos Estados Unidos no monte Suribachi. A célebre foto, tirada em fevereiro de 1945, funcionou então como uma potente arma de propaganda de guerra, usada pelo governo americano para angariar fundos para o esforço de guerra. Dos seis protagonistas da mesma, apenas três sobreviveram à batalha e foram trazidos de volta para iniciar uma campanha de arrecadação para os cofres da Defesa. Essa história real conta como John Bradley (Ryan Phillippe), Ira Hayes (Adam Beach) e Rene Gagnon (Jessé Bradford), os tais heróis americanos, encararam de diferentes formas a bazófia que se formou em torno deles. A culpa, a depressão e o deslumbramento são alguns dos sentimentos vividos pelos mesmos, atônitos com o que a guerra fez deles e com a transformação da mesma, diante de seus olhos, em tudo o que ela não pode ser: um espetáculo. Classificação: 16 anos.

EU SOU A LENDA (I Am Legend, EUA)
Gênero: Ficção Científica
Direção: Francis Lawrence
Ano: 2007


Refilmagem do clássico da ficção científica A Última Esperança da Terra, de 1971, esta primorosa produção traz Will Smith no papel do cientista e militar Robert Neville, um sobrevivente de uma epidemia deflagrada por um vírus modificado para o tratamento do câncer. Com efeitos especiais fantásticos, mas que não suplantam o enredo nem a interpretação de Smith, o filme surpreende ao mostrar uma Nova York completamente devastada e abandonada, após a dizimação de sua população: carros enferrujando no meio das ruas cobertas de mato, antílopes correndo livremente no meio deles e... dentro dos prédios e lojas, escondidos da luz solar, seres humanos metamorfoseados em criaturas violentas e assustadoras. Durante o dia, quando não há perigo, Robert sai com sua inseparável cadela Sam para caçar antílopes, pegar filmes numa locadora e, é claro, tentar encontrar algum outro sobrevivente, imune ao vírus como ele. Já à noite, quando os mutantes tomam as ruas, ele se esconde numa casa que é uma fortaleza e, em seu laboratório, tenta descobrir uma vacina para tal infecção. Destaque para Alice Braga, a maior revelação brasileira no cinema americano nos últimos tempos: ela é Anna, outra sobrevivente da epidemia que salvará a vida de Robert na segunda metade do filme e será a chave do desfecho do mesmo. Para quem gosta de ação com enredo, Smith mostra mais uma vez por que é o ator mais bem pago da atualidade. Classificação: 12 anos.