Trata-se do livro “A psicologia das roupas”, da Editora Mestre Jou, escrito pelo psicólogo experimental e psicanalista inglês, nascido em Liverpool, John Carl Flügel (mãe inglesa e pai alemão).
Antes, uma explicação porque tenho esse livro. Eu, ainda como camiliano, trabalhava na Vila Pompeia, SP, onde havia uma gráfica que imprimia livros para várias editoras, entre elas a Editora Mestre Jou. Dos livros impressos que tivessem algum defeito podíamos ficar com algum exemplar. É o meu caso.
Como é um livro famoso, mas com poucos leitores, resolvi apresentar para os leitores de minha coluna no Jornal das Lajes, “O verso e o controverso”, um pequeno resumo dele, que, é evidente, nunca dispensará sua leitura.
No prefácio, Flügel cita Herbert Spencer, de que a consciência de estar perfeitamente bem vestido pode conferir “tal paz que nem mesmo a religião pode fazê-lo”. E acrescenta o autor (Flügel): “Apesar de ter aparecido um grande número de livros sobre psicologia da religião, poucos houve sobre psicologia das roupas”.
Ao todo, são 15 capítulos. Dá para apresentar o essencial de cada um. Ponho entre aspas quando cito Flügel. O fundamental do I capítulo: “Há praticamente uma concordância geral entre todos os que escrevem sobre o assunto no sentido de que as roupas servem a três finalidades principais: enfeite, pudor, proteção”.
O capítulo II trata da roupa como: elemento sexual (“A grande maioria acredita que o uso das roupas prende-se ao desejo de realçar os atrativos sexuais do portador”, troféus (“Quando um caçador matava algum animal, muitas vezes carregava alguma parte que lhe parecia útil ou decorativa, ou que serviria como permanente recordação de sua proeza); terrorismo (“O enfeite consistente de partes de inimigos abatidos. Facilmente tornou-se horrível ou inspirador de terror”); sinal de posição, ocupação etc. (“Certos ornamentos, ou cores especiais, como coroa, cetro, púrpura real, sempre foram prerrogativas da realeza ou outros altos dignitários militares, civis, ou religiosos”); sinal de localidade ou nacionalidade (“ Os chamados trajes nacionais indicam que o portador pertence a um distrito, a um clã ou a uma nação em particular”); ostentação de riqueza (“Os indivíduos mais ricos têm recursos para se vestir com tecidos mais trabalhados e caros do que seus irmãos e irmãs mais pobres. E numa sociedade onde a riqueza é questão de orgulho e um meio de obter poder e respeito, é natural que os ricos procurem distinguir-se”); uso de artigos essenciais (“Este fator teve uma influência definida sobre certos trajes convencionais, especialmente nos uniformes militares, onde, por exemplo, a espada e as esporas se tornam parte de um todo reconhecido e usado com propósitos decorativos e cerimoniais, mesmo em ocasiões em que não são requeridas. O uniforme do escoteiro, com seu cinto do qual pendem canivetes e outros instrumentos de escotismo, constitui um exemplo moderno de um traje que foi obviamente muito influenciado por esta mesma ideia”); extensão do próprio físico (“Resta um motivo ligado à decoração que é um pouco mais sutil em sua função e cuja primeira formulação clara e explícita se deve a Hermann Lotze - filósofo, médico e lógico alemão: 1817-1881”). É essencialmente um motivo psicológico que, reduzido a seus termos mais simples, consiste em que a roupa, aumentando de um modo ou de outro, o tamanho aparente do corpo, nos dá a sensação maior de poder, de uma maior extensão de nosso próprio físico, coisa que, em última instância, nos permite ocupar maior espaço nas palavras de um escritor, que deu uma das mais valiosas contribuições para a psicologia das roupas.
Nos demais capítulos, apenas os títulos. No III: Ornamentação – Aspectos formais. IV: Pudor. V: Proteção. VI: Diferenças individuais. VII: Diferenças sexuais. VIII: Tipo de vestes. IX: As forças da moda. X: As vicissitudes da moda. XI: A evolução dos trajes. XII: A ética das roupas – Arte e natureza. XIII: A ética das roupas – Diferenças individuais e sexuais. XIV: A ética das roupas – A racionalização da moda. XV: O futuro das roupas.
Acrescento que o livro apresenta 21 fotos ilustrando os assuntos desenvolvidos nos capítulos e mostrando o modo de se vestir de muitos povos.
Após a leitura do livro, concordo em quase tudo com o que Flügel escreveu. É o que penso. E você?