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Novamente o Papa Francisco

25 de Dezembro de 2024, por João Magalhães

Assisti, recentemente, na TV Cultura a um programa, comentando uma carta do Papa Francisco recomendando a leitura de romances e poemas, ou seja, literatura, como meio de formação humana. Liguei para o redator-chefe do Jornal das Lajes, André Eustáquio Melo de Oliveira. Mostrou-se conhecedor do assunto. Conseguiu o texto da carta em português e enviou-me. Meus agradecimentos.

O Papa Francisco, em minha opinião, passará para a História dos Supremos Pontífices por ser: o primeiro Papa latino-americano (argentino) - o primeiro com o nome Francisco – o primeiro Papa da Ordem dos Jesuítas, embora os jesuítas fossem chamados de papas negros (cor da batina) por causa de serem assessores nos pronunciamentos dos papas (O Papa Pio XII é um exemplo) - Agora, também, pela sua surpreendente nova “Carta do Santo Padre Francisco sobre o Papel da Literatura na Educação”.

A carta tem títulos (são 8), números (são 44) e colchetes (são 32). Os títulos: Fé e culturaNunca um Cristo sem carneUm grande bemOuvir a voz de alguémUma espécie de ginásio de discernimentoAtenção e digestãoVer através dos olhos dos outrosO poder espiritual da literatura. Nos números, o pontífice vai explicitando seus conceitos e apresenta autores que confirmam ou provam suas afirmações. Nos colchetes, as fontes.

Citando o nº 1: “Inicialmente, tinha escrito um título alusivo à formação sacerdotal, mas depois pensei que o que se segue pode ser dito, de modo semelhante, em relação à formação de todos os agentes pastorais e de qualquer cristão. Refiro-me ao valor da leitura de romances e poemas no caminho do amadurecimento pessoal”.

Citando nº 5: “ Com esta carta, desejo propor uma mudança radical de atitude em relação à grande atenção que deve ser dada à literatura no contexto da formação dos candidatos ao sacerdócio. A este respeito considero muito eficiente o que diz um teólogo. (Trata-se do teólogo canadense René Latourelle 1918-2017). O teólogo diz: “A literatura brota da pessoa no que tem de mais irredutível, no seu mistério... É a vida que se torna consciente de si mesma quando, utilizando todos os recursos de linguagem, atinge a plenitude da expressão”.

Citando nº 6: “De uma forma ou de outra, a literatura tem a ver com o que cada um de nós deseja da vida, uma vez que entra numa relação íntima com a nossa existência concreta, com as suas tensões essenciais, com os seus desejos e seus significados”.

No nº 7, o Papa escreve sobre a época quando, muito moço ainda, 28 anos, lecionava literatura no colégio jesuíta de Santa Fé, Argentina. E no nº 11: Basílio de Cesareia, padre da Igreja Oriental antiga, em seu discurso aos jovens, escrito entre 370 e 375. Neste texto, o Papa Francisco mostra seus bons conhecimentos da língua grega.

No nº 18: “Para tentar ainda encorajar à leitura, cito de bom grado alguns textos de autores conhecidos que nos ensinam tanto em poucas palavras”. E referindo-se a Marcel Proust: “ Os romances desencadeiam em nós, no espaço de uma hora, todas as alegrias e desgraças possíveis que, durante a vida, levaríamos anos inteiros a conhecer minimamente: e, dessas, as mais intensas nunca nos seriam reveladas, porque a lentidão com que ocorrem nos impede de as perceber”.

Cita “Os Atos dos Apóstolos” de Lucas (At 17,16-34). Paulo prega no Areópago de Atenas. O Papa afirma que Paulo “entendeu que a literatura descobre os abismos que habitam o homem, enquanto a revelação, e depois a teologia, os retoma para mostrar como Cristo vem atravessá-los e iluminá-los. Em direção a estes abismos, a literatura é um caminho de acesso, que ajuda o pastor a entrar num diálogo fecundo com a cultura do seu tempo”.

Cita Jorge Luís Borges, argentino como ele, que chama de grande escritor. Costumava dizer aos seus alunos: “o mais importante é ler, entrar em contato direto com a literatura, mergulhar no texto vivo que se tem diante de si, mais do que fixar-se em ideias e comentários críticos”. E assim por diante, vai citando o jesuíta, grande teólogo, Karl Hahner: o próprio Santo Inácio de Loyola; Jean Cocteau: Jacques Maritain: Marcel Proust: Paul Celan e T.S. Eliot etc., todos devidamente documentados nos colchetes no fim da carta.

Junto a meus livros, tenho muitas dezenas deles, alguns até repetidos. Aqui em São Paulo, tenho um pequeno quadro pendurado na estante, emoldurando o desenho de um livro e acima do livro a frase: “Ler para Ser”. Para quem, desde que aprendeu a ler na escola Assis Resende, em Resende Costa, e se tornou um leitor compulsivo, a frase exprime uma verdade. Pensei muito nisso quando li a carta do Papa Francisco e concordo com ele.

É o que penso. E você?

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