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O romance que comoveu muita gente: “Meu Pé de Laranja Lima”

23 de Outubro de 2024, por João Magalhães

Não era minha intenção escrever sobre José Mauro de Vasconcelos e seu “Meu Pé de Laranja Lima”, mas algumas coincidências me aconselharam a fazê-lo.

A primeira. Pondo em ordem alguns recortes do jornal O Estado de São Paulo, topei com uma reportagem de Maria Fernanda Rodrigues no Caderno 2, edição de 2017, que merece esta longa citação: “Há 50 anos, José Mauro de Vasconcelos escrevia o best-seller ‘O Meu Pé de Laranja Lima’. Sucesso juvenil. 150 edições, 2 milhões de cópias vendidas e tradução em 15 idiomas. Para marcar a data, a Melhoramentos antecipa o lançamento de uma edição comemorativa pelos 50 anos. O recorde foi em 1969, com 320 cópias comercializadas, e, embora os números tenham perdido a força com o passar dos anos, eles ainda impressionam. Acredito que as pessoas de diferentes países e realidades se identificam com Zezé porque ele representa tão bem aquela mistura de inocência e travessura das crianças de 5 ou 6 anos. É um personagem apaixonante e uma história inesquecível”.

A segunda. Mexendo em alguns exemplares do nosso Jornal das Lajes, dezembro de 2013, encontrei na coluna “Retalhos Literários”, de meu amigo e companheiro Evaldo Balbino, um consistente e belo comentário sobre o Zezé, com o título: “A pedagógica metamorfose de Zezé”.

A terceira. Sou um dos comovidos, pois, no Natal de 1968, ganhei de presente o romance do casal Maurício e Vilma, dirigentes de uma equipe do Movimento Familiar Cristão, da qual eu era o assistente religioso.

A quarta. O preconceito da crítica literária sobre a obra de José Mauro de Vasconcelos me abala muito, mesmo que não seja a maioria dos críticos. Tenho aqui em mãos, além de “Meu Pé de Laranja lima” (1968), mais 8 livros de José Mauro: “Rosinha Minha Canoa” (1963) – “Barro Blanco” (1968) -  “Rua Descalça” (1969) – “Arraia De Fogo” (1969) – “Banana Brava” (1970) – “As Confissões de Frei Abóbora“ (1970) – “O Palácio Japonês” (1970) - “Doidão” (1971). Coloquei as datas de lançamento desses livros porque o comentário dos críticos, em maioria, foi elogioso quando os mesmos foram publicados. O livro “As confissões de Frei Abóbora”, por exemplo, recebeu o prêmio Jabuti como melhor romance.

A quinta. Este ano faz 40 anos que José Mauro de Vasconcelos nos deixou. Faleceu aos 64 anos, em 1984, em São Paulo. Seu túmulo está no cemitério do Araçá. Merece esta homenagem.

Um pouco de sua biografia. Nasceu em Bangu, no Rio de Janeiro, no dia 26 de fevereiro de 1920. Filho de imigrante português, foi criado, no entanto, pelos tios na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Com 15 anos, voltou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em diversos empregos para se sustentar: carregador de bananas numa fazenda no litoral carioca, instrutor de boxe e operário. Mudando-se para São Paulo, trabalhou como garçom de boate. Iniciou o curso de Medicina, mas abandonou a universidade. Recebeu uma bolsa para estudar na Espanha, mas também não se adaptou à vida acadêmica.

Vida multifacetada. Ator de teatro, televisão e cinema. Sua vida melhora muito quando começa a publicar livros. Ele mesmo dizia que começava a escrever quando o enredo estava todo completo em sua cabeça. Aventurou-se, junto aos irmãos Villas-Boas, em uma viagem pelos rios da região do Araguaia. O resultado foi seu livro de estreia, “Banana Brava”, no qual relata o mundo do garimpo na região. Seu primeiro grande sucesso veio com “Rosinha Minha Canoa”. A obra foi utilizada no curso de Português na Sorbonne, em Paris.

Seu “Meu Pé de Laranja Lima torna-se um clássico da literatura brasileira. Termino estas linhas escrevendo a parte que mais me comoveu dessa grande obra. Sem dúvida, os capítulos finais da segunda parte, sobretudo a amizade com Manuel Valadares – o Portuga. Quando ele morre dentro de seu carro de luxo, esmagados carro e ele por um trem, Zezé entra em desespero e adoece. O portuga era praticamente seu pai. Tinham uma amizade profunda. Dizem que a obra é autobiográfica. Pode ser. O último capítulo, “A confissão final”, mostra que Zezé, o narrador, já é adulto. “Os anos se passaram, meu caro Manuel Valadares [o portuga]. Hoje tenho quarenta e oito anos e às vezes na minha saudade eu tenho impressão que continuo criança. Que você a qualquer momento vai me aparecer me trazendo figurinhas de artista de cinema ou mais bolas de gude. Foi você quem me ensinou a ternura da vida, meu portuga querido”.

Acho José Mauro um grande escritor. Talvez, se algum dia você ler algum livro dele, sobretudo “Meu Pé de Laranja Lima”, concordará comigo.

É o que penso, E você?

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