Os cursos dágua são mais do que simples fontes de recursos para uso humano. Eles possuem um valor intrínseco, um significado que transcende sua utilidade econômica ou funcional. Esse valor está fundamentado na existência própria do rio e nos papéis ecológicos, culturais e espirituais que desempenha.
O conceito de valor intrínseco reconhece que um curso dágua tem importância mesmo na ausência de utilização direta pelos seres humanos. Ele existe como parte integrante de um ecossistema, sustentando a vida e os processos ecológicos que garantem o equilíbrio ambiental. Esse valor não depende de sua exploração para irrigação, abastecimento ou lazer, mas sim de sua própria presença e função na natureza.
Rios e riachos abrigam uma vasta diversidade de vida, desde microrganismos aquáticos até espécies de peixes, aves e mamíferos. Eles atuam como corredores ecológicos, conectando habitats e permitindo a migração de espécies. Além disso, desempenham um papel vital na purificação da água, no transporte de sedimentos e nutrientes e na regulação do microclima.
Para muitas culturas, os cursos dágua são sagrados ou simbolizam fontes de vida e renovação. Comunidades tradicionais frequentemente dependem dos rios não apenas para subsistência, mas também como parte de sua identidade cultural. Esse valor simbólico reforça a necessidade de proteger e preservar esses ecossistemas.
Rios também possuem valor intrínseco como paisagens naturais que inspiram arte, literatura e espiritualidade. Sua beleza e dinamismo convidam à contemplação e à conexão emocional, despertando um senso de pertencimento e responsabilidade ambiental.
Reconhecer o valor intrínseco de um curso dágua implica comprometer-se com sua preservação, independentemente de sua utilidade imediata. Isso significa manter sua vazão ecológica, proteger suas margens com vegetação nativa, controlar a poluição e evitar intervenções que comprometam seu equilíbrio natural.
O valor intrínseco de um rio reside em seu papel ecológico, cultural e estético, independentemente de usos práticos ou econômicos. Ao adotar essa perspectiva, promovemos uma relação mais respeitosa e equilibrada com a natureza, garantindo a proteção dos rios como parte essencial da vida na Terra. Esse reconhecimento é fundamental para a construção de um futuro mais sustentável e harmonioso entre humanidade e ambiente.
*Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo