Partilhando com o leitor um livro difícil, mas profundamente inovador – 2ª parte
26 de Marco de 2025, por João Magalhães 0
Nesta 2ª parte, apresentamos os capítulos 6 a 10 do livro “Como Pão no Prato Sagrado”, com o subtítulo: “Uma leitura lésbico-feminista das sagradas escrituras e da tradição judaica”, de Rebecca Alpert, uma vez que os 5 primeiros já foram apresentados na edição de fevereiro do JL. Ei-los com os devidos títulos: 6. Asot Mishpat: O compromisso com a Justiça. 7. Textos Modernos: A sexualidade da Judia Lésbica. 8. Textos Modernos: Lésbicas e Inconformismo em Matéria de Sexo. 9. Ficção Judaica Moderna, 10. Visões para o Futuro.
Para o leitor ter uma ideia, optei por transcrever o que Rebecca Alpert escreve no capítulo 10: “O objetivo final deste livro é estimular o diálogo entre judias lésbicas e outros segmentos da comunidade judaica que, trabalhando juntos, incorporarão um novo tipo de aprendizagem sobre as judias lésbicas ao tecido da vida comunitária judaica. A transformação depende da boa vontade de judias lésbicas e do resto da comunidade, para dar prosseguimento ao processo de diálogo, mesmo que seja difícil assim proceder. E supõe que a vida judaica será receptiva a essa transformação que, algum dia, lésbicas de todas as variedades se sentirão inteiramente à vontade em afirmar e orgulhar-se de sua vida como judias na comunidade judaica. E observe-se, elas não estão sozinhas ao exigir mudanças na comunidade judaica. Compartilhamos muitos dos nossos interesses com outros grupos de judeus”.
E Rebecca vai enumerando: “Com feministas heterossexuais, que estão empenhadas no processo de mudar os papéis e o lugar das mulheres na vida judaica, questionando todos os limites impostos ao que elas podem fazer”.
“ Com gays judeus criamos estruturas alternativas de comunidade e adoração que estão desempenhando um papel importante na reconfiguração da vida comunitária de nosso povo”.
“Com casais heterossexuais de raças diferentes estamos postulando questões sobre a importância das diferenças em relacionamentos amorosos e sobre maneiras de tornar sagrados os relacionamentos através dessas diferenças”.
“Com judeus bissexuais questionamos suposições sobre a maneira como nossa tradição encara opções sexuais”,
“Com judeus transexuais desafiamos os rígidos papéis de sexo no judaísmo”.
“Com os que não podem ou desejam criar filhos estamos descobrindo novas maneiras de pensar nas novas gerações de judeus e apoiá-las”.
“Com judeus heterossexuais solteiros estamos questionando a estrutura da família nuclear como ideal ao qual todos os judeus devem aspirar”.
“Com outros judeus que têm se sentido constrangidos com as orações e observância religiosa tradicionais tomamos parte no processo de criar novos rituais e cerimônias em nossa vida”.
“Com os judeus que julgam a Torah simultaneamente fascinante e alienante, estamos usando nosso coração e nossa mente para refazer nosso entendimento das palavras de nossos ancestrais, que alegamos ser sagradas”.
“Com outros judeus liberais estamos descobrindo maneiras de criar uma vida judaica que não se baseie em precedente halahio (legal), mas seja condicionada por uma ética judaica que se fundamenta em valores colhidos nas histórias de nosso povo – tanto a antiga quanto as que estamos agora criando”.
“Com educadores judeus progressistas, estamos buscando novas maneiras e modelos para ensinar às crianças o nosso passado, um passado que inclua a história de judias lésbicas”.
“Com estudiosos da história da mulher, do misticismo e com as comunidades Mizrachi (?) estamos pesquisando aquelas partes de nosso passado que escaparam do interesse e da atenção dos especialistas”.
“Com os judeus que se sentem desencorajados com os valores de alguns na comunidade, que se importam apenas se alguma coisa “for boa para os judeus”, procuramos formar alianças com outros grupos que querem trazer justiça e paz a um mundo conturbado”.
E Rebecca conclui: “A autoconsciência da judia lésbica nasceu da raiva por nossa invisibilidade e pela opressão que sofríamos e evolui para a exigência de aceitação. Fomos além de querer simplesmente abrir um lugar para nós, além do Pão no Prato Cerimonial da Páscoa; queremos agora transformar o judaísmo que encontramos quando chegamos a esse lugar. Este livro sugere que continuemos a discussão entre judias lésbicas e outros membros da comunidade judaica através do estudo de textos”.
Como escrevi na edição anterior, esse texto não substitui a leitura do livro, mas as citações e os comentários podem dar uma ideia de seu teor.
É o que penso. E você?
Partilhando com o leitor um livro difícil, mas inovador – 1ª parte
25 de Fevereiro de 2025, por João Magalhães 0
Faz tanto tempo que já não lembro quando e como, comprei este livro: “Como o Pão no Prato Sagrado”, numa liquidação da Editora Rosa dos Tempos (o preço está ainda na capa). Chamou-me muito atenção o subtítulo: “Uma leitura lésbico-feminista das sagradas escrituras e da tradição judaica. Li. Então. a contracapa, que transcrevo no parágrafo abaixo, que motivou bem mais a compra.
“Rebecca Alpert é rabina, lésbica assumida e uma das mulheres mais inteligentes e críticas dos Estados Unidos. Feminista teórica e também diretora do Centro de Estudos da Mulher e do Departamento da Mulher e do Departamento de Estudos da Mulher e do Departamento de Estudos da Religião da Universidade de Temple (Filadélfia), cargo este conseguido graças à publicação deste livro, que ganhou em 1998 o prêmio de obra mais importante na área de estudos da homossexualidade. “Como pão no prato sagrado” discute o problema da homossexualidade na cultura judaica. No tempo em que os gregos assumiam pública e institucionalmente as práticas homossexuais, a Bíblia condenava o homossexualismo como pecado passível de morte. Neste livro, Rebecca analisa a posição da Bíblia e estuda a cultura judaica nos últimos dois mil anos do ponto de vista da mulher homossexual, apresentando novos caminhos para o estudo da religião na área de gênero”.
Embora o livro apresente em nosso alfabeto um glossário do idioma hebraico, a leitura de cada capítulo é muito difícil por causa das notas. São dez capítulos. Apresento-os: 1. Lésbica e judia: Qual é o problema? 2. Textos perturbadores da Torah (A Torah consiste nos primeiros cinco livros da Bíblia hebraica. Conhecida também como Pentateuco ou os cinco Livros de Moisés). 3. Interpretação da Torah por Judias Lésbicas. 4. A visibilidade da Judia Lésbica. 5. Relacionamentos Transformadores. 6. O compromisso com a Justiça. 7. Textos modernos. A Sexualidade da Judia Lésbica. 8. Textos Modernos: Lésbicas e Inconformismo em Matéria de Sexo. 9. Ficção Lésbica Judaica Moderna. 10. Visões para o Futuro.
Observação: Alguns capítulos como o 4º, o 5º e o 6º têm o título em hebraico, mas há tradução para o português.
Para essa edição, o comentário é para os cinco primeiros capítulos. No primeiro, a luta para uma visibilidade lésbica. Aos poucos, o grupo das feministas vai aparecendo como lésbicas e ousa sonhar para essa abertura de identidade sexual. Enfrenta muita oposição ou desprezo. Mas, aos poucos, vai conquistando seu espaço, como o mostram as subdivisões do capítulo como as reações e os problemas com a tradição judaicas, o desejo sexual, os preconceitos como “terceiro sexo”, “mulher macho” etc.
Nos outros quatro capítulos, os assuntos tratados já falam por si. A importância da Torah, a história da criação, a criação dos sexos, teu desejo será pelo seu marido, definindo a norma heterossexual, proibição do comportamento homossexual masculino (“com homem não te deitarás, como se fosse mulher: é abominação” Levítico, 18,22).
As várias interpretações da Torah como o método interpretativo, a lenda de Eva e Lilith, o método histórico, a confrontação do texto, a redefinição dos textos sagrados, o processo de assumir, a ética se assumir e viver no mundo, o papel da Comunidade Judaica, os rituais, a visibilidade como grupo, as Sinagogas gays e lésbicas são também temas abordados.
Na próxima edição, continuaremos com os demais capítulos, lembrando que nada substitui a leitura do livro. Claro, repetindo o título, uma leitura muito complicada e difícil, porém, a meu ver, profundamente inovadora. Não há condições de mostrar as posições do Judaísmo atual.
E o que penso. E você?
Folia de Reis
22 de Janeiro de 2025, por João Magalhães 0

Folia de Reis Nossa Senhora da Penha, de Resende Costa, em frente ao presépio montado em 2023 no Mirante das Lajes (foto André Eustáquio - JL)
Para evitar repetição, comuniquei-me com o André, editor-chefe do Jornal das Lajes, perguntando se havia alguém da equipe que ia escrever sobre Folia de Reis. Respondeu-me que não.
É o que faço agora. Dedico este texto a Tim Maia (1942 - 1998), cuja música “Hoje é o dia de Santo Reis”, estou ouvindo agora.
Concordo com algumas partes da letra de sua música, que transcrevo para que algum leitor, pouco habituado a ouvi-lo, possa ter ideia. “Hoje é dia de Santo Reis/ Anda meio esquecido/ Mas é o dia da festa / de Santo Reis / anda meio esquisito / mas é dia da festa / De Santo Reis. / Eles chegam tocando /sanfona e violão / os pandeiros de fita / carregam sempre na mão / eles vão levando /levando o que pode / se deixar com eles / eles levam até os bodes / é os bodes da gente /é os bodes da gente / é os bodes, mééé / é os da gente /é os bodes, mééé./ hoje é dia de Santo Reis /hoje é dia do Santo Reis /hoje é o dia / yah, yeah,yeah, de Santo Reis / hoje é dia de Santo Reis / é o dia da festa yeah,yehah / hoje é o dia de Santo Reis/ hoje é dia de Santo Reis /
A Folia de Reis faz parte do folclore brasileiro. Luís Câmara Cascudo (1898 -1986) que o diga em seu “Dicionário do folclore brasileiro”. Espalhou-se pelo estado de Minas Gerais e também em alguns estados do Nordeste. Foi introduzida no Brasil faz séculos pelos portugueses, nossos colonizadores.
Aqui em nossa cidade sempre foi venerada. Até hoje. No passado, receber a visita dos foliantes de reis com seus instrumentos era uma honra. Será que nos dias atuais é assim? Lembro-me da minha juventude lá no Tijuco, onde nasci e fui criado. Eram recebidos com café e biscoito. Cantavam, tocavam e pediam doações. Não sei se para os pobres ou para a paróquia.
É o que penso. E você?
Novamente o Papa Francisco
25 de Dezembro de 2024, por João Magalhães 0
Assisti, recentemente, na TV Cultura a um programa, comentando uma carta do Papa Francisco recomendando a leitura de romances e poemas, ou seja, literatura, como meio de formação humana. Liguei para o redator-chefe do Jornal das Lajes, André Eustáquio Melo de Oliveira. Mostrou-se conhecedor do assunto. Conseguiu o texto da carta em português e enviou-me. Meus agradecimentos.
O Papa Francisco, em minha opinião, passará para a História dos Supremos Pontífices por ser: o primeiro Papa latino-americano (argentino) - o primeiro com o nome Francisco – o primeiro Papa da Ordem dos Jesuítas, embora os jesuítas fossem chamados de papas negros (cor da batina) por causa de serem assessores nos pronunciamentos dos papas (O Papa Pio XII é um exemplo) - Agora, também, pela sua surpreendente nova “Carta do Santo Padre Francisco sobre o Papel da Literatura na Educação”.
A carta tem títulos (são 8), números (são 44) e colchetes (são 32). Os títulos: Fé e cultura – Nunca um Cristo sem carne – Um grande bem – Ouvir a voz de alguém – Uma espécie de ginásio de discernimento – Atenção e digestão – Ver através dos olhos dos outros – O poder espiritual da literatura. Nos números, o pontífice vai explicitando seus conceitos e apresenta autores que confirmam ou provam suas afirmações. Nos colchetes, as fontes.
Citando o nº 1: “Inicialmente, tinha escrito um título alusivo à formação sacerdotal, mas depois pensei que o que se segue pode ser dito, de modo semelhante, em relação à formação de todos os agentes pastorais e de qualquer cristão. Refiro-me ao valor da leitura de romances e poemas no caminho do amadurecimento pessoal”.
Citando nº 5: “ Com esta carta, desejo propor uma mudança radical de atitude em relação à grande atenção que deve ser dada à literatura no contexto da formação dos candidatos ao sacerdócio. A este respeito considero muito eficiente o que diz um teólogo. (Trata-se do teólogo canadense René Latourelle 1918-2017). O teólogo diz: “A literatura brota da pessoa no que tem de mais irredutível, no seu mistério... É a vida que se torna consciente de si mesma quando, utilizando todos os recursos de linguagem, atinge a plenitude da expressão”.
Citando nº 6: “De uma forma ou de outra, a literatura tem a ver com o que cada um de nós deseja da vida, uma vez que entra numa relação íntima com a nossa existência concreta, com as suas tensões essenciais, com os seus desejos e seus significados”.
No nº 7, o Papa escreve sobre a época quando, muito moço ainda, 28 anos, lecionava literatura no colégio jesuíta de Santa Fé, Argentina. E no nº 11: Basílio de Cesareia, padre da Igreja Oriental antiga, em seu discurso aos jovens, escrito entre 370 e 375. Neste texto, o Papa Francisco mostra seus bons conhecimentos da língua grega.
No nº 18: “Para tentar ainda encorajar à leitura, cito de bom grado alguns textos de autores conhecidos que nos ensinam tanto em poucas palavras”. E referindo-se a Marcel Proust: “ Os romances desencadeiam em nós, no espaço de uma hora, todas as alegrias e desgraças possíveis que, durante a vida, levaríamos anos inteiros a conhecer minimamente: e, dessas, as mais intensas nunca nos seriam reveladas, porque a lentidão com que ocorrem nos impede de as perceber”.
Cita “Os Atos dos Apóstolos” de Lucas (At 17,16-34). Paulo prega no Areópago de Atenas. O Papa afirma que Paulo “entendeu que a literatura descobre os abismos que habitam o homem, enquanto a revelação, e depois a teologia, os retoma para mostrar como Cristo vem atravessá-los e iluminá-los. Em direção a estes abismos, a literatura é um caminho de acesso, que ajuda o pastor a entrar num diálogo fecundo com a cultura do seu tempo”.
Cita Jorge Luís Borges, argentino como ele, que chama de grande escritor. Costumava dizer aos seus alunos: “o mais importante é ler, entrar em contato direto com a literatura, mergulhar no texto vivo que se tem diante de si, mais do que fixar-se em ideias e comentários críticos”. E assim por diante, vai citando o jesuíta, grande teólogo, Karl Hahner: o próprio Santo Inácio de Loyola; Jean Cocteau: Jacques Maritain: Marcel Proust: Paul Celan e T.S. Eliot etc., todos devidamente documentados nos colchetes no fim da carta.
Junto a meus livros, tenho muitas dezenas deles, alguns até repetidos. Aqui em São Paulo, tenho um pequeno quadro pendurado na estante, emoldurando o desenho de um livro e acima do livro a frase: “Ler para Ser”. Para quem, desde que aprendeu a ler na escola Assis Resende, em Resende Costa, e se tornou um leitor compulsivo, a frase exprime uma verdade. Pensei muito nisso quando li a carta do Papa Francisco e concordo com ele.
É o que penso. E você?
Da série os grandes humanistas: Thiago de Mello
27 de Novembro de 2024, por João Magalhães 0

O poeta amazonense Thiago de Mello (foto Templo Cultural Delfos - internet)
Colecionador de recortes de jornal, como sempre fui, em minhas mãos o Estado de S. Paulo, 1987. Ano da constituinte. Propaganda da Vasp. Publica Os Estatutos do Homem de Thiago de Mello, com os seguintes dizeres: “Que o texto do poeta seja uma nova realidade para todos a partir deste ano da Constituinte. Os Estados do Homem são em forma de artigos. São 14 artigos.
Como esta minha coluna leva o título de “O verso e controverso”, desta vez trabalho apenas o verso no sentido do verbete número 1 do Novo Aurélio: “Cada unidade rítmica constitutiva de um poema, ou seja, a unidade de rítmica de uma poesia”. Não no sentido de verso do título da coluna, que é o indiscutível, aquilo que não se constitui objeto de controvérsia.
Peço desculpas ao leitor que conhece a obra de Thiago de Mello, mas, tendo em vista os que não a conhecem, tomei a liberdade de citar o poema mais famosos dele: “Os Estatutos do Homem”.
Artigo I: “Fica decretado que agora vale a verdade / que agora vale a vida / e que de mãos dadas / trabalharemos todos pela vida verdadeira”. Artigo II: “Fica decretado que todos os dias da semana / inclusive as terças-feiras mais cinzentas / têm o direito a converter-se em manhãs / de domingo”.
Artigo III: “Fica decretado que a partir deste instante / haverá girassóis em todas as janelas / que os girassóis terão direito / a abrir-se dentro da sombra / e que as janelas devem permanecer o dia inteiro / abertas para o verde onde cresce a esperança”. Parágrafo único: “O homem confiará no homem / como um menino confia em outra menina”.
Artigo IV: “Fica decretado que o homem / não precisa nunca mais / duvidar do homem / que o homem confiará no homem / como a palmeira confia no vento / como o vento confia no ar / como o ar confia no campo azul do céu”. Parágrafo único: “O homem confiará no homem / como um menino confia em outro menino”.
Artigo V: “Fica decretado que os homens / estão livres do jugo da mentira. / Nunca mais será preciso usar / a couraça do silêncio / nem a armadura de palavras, / O homem se sentará à mesa / com seu olhar limpo / porque a verdade passará a ser servida / antes da sobremesa.
Artigo VI: “Fica estabelecida durante dez séculos / a prática sonhada pelo profeta Isaías / e o lobo e o cordeiro pastarão juntos / e a comida de ambos terá o mesmo gosto / de aurora”.
Artigo VII: “Por decreto irrevogável fica estabelecido / o reinado permanente da justiça e da claridão / e a alegria será uma bandeira generosa / para sempre desfraldada na lama do povo”.
Artigo VIII: “fica decretado que a maior dor / sempre foi e será sempre / não poder dar amor a quem se ama / sabendo que é a água / que dá à planta o milagre flor”.
Artigo IX: “Fica permitido que o pão de cada dia / tenha no homem o sinal de seu suor / Mas que sobretudo tenha sempre / o quente sabor de ternura”.
Artigo X: “Fica permitido a qualquer pessoa / a qualquer hora da vida / o uso do traje branco”.
Artigo XI: “Fica decretado por definição / que o homem é um animal que ama / e que por isso é belo / muito mais belo que a estrela da manhã”.
Artigo XII: “Decreta-se nada será obrigado nem / proibido / tudo será permitido / inclusive brincar com os rinocerontes / e caminhar pelas tardes / com uma imensa begônia na lapela”. Parágrafo único: “Só uma coisa fica proibida / amar sem amor”.
Artigo XIII: “Fica decretado que o dinheiro / não poderá nunca mais comprar / o sol das manhãs vindouras. / Expulso do grande baú do medo / o dinheiro se transformará em uma espada fraternal / para defender o direito de cantar / e a festa do dia que chegou”.
Artigo Final: “Fica proibido o uso da palavra liberdade / a qual será suprimida dos dicionários / e do pântano enganoso das bocas. / A partir deste instante / a liberdade será algo vivo e transparente / como um fogo ou um rio / ou como a semente do trigo / e a sua morada será sempre / o coração do homem”.
Um resumo da biografia de Thiago de Mello: Amadeu Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, no Amazonas, em 1926. Aí fez seus estudos iniciais. Ingressou na graduação em medicina, no Rio de Janeiro, mas abandonou na metade do curso. Entrou, então, na carreira diplomática, tendo sido adido cultural na Bolívia e no Chile. Sua carreira foi interrompida pela ditadura militar brasileira de 1964. Foi preso e depois se exilou no Chile, onde se tornou amigo do grande poeta chileno Pablo Neruda. Morou na Argentina, Portugal, França e Alemanha. Grande poeta, prosador, tradutor, artista e jornalista multipremiado. Faleceu a 14 de janeiro de 2022 em Manaus. A 34ª Bienal de S. Paulo fez uma homenagem a ele.
É o que penso. E você?